Santa Tereza: munícipes trazem seu olhar sobre a cidade

Entre os vales dos Vinhedos e Taquari, está localizada Santa Tereza, com menos de dois mil habitantes. O município, que antes era distrito de Bento Gonçalves, comemorou no último domingo, 20, os 30 anos de emancipação política.

O primeiro prefeito da cidade, com mandato de 1993 a 1996, Denis Acco, conta como foi o processo de transição de distrito para município. “O movimento efetivamente foi árduo. Tivemos uma dificuldade muito grande que era a falta dos eleitores. Quando começamos o movimento de emancipação, tínhamos 1.400 votantes e precisávamos de, no mínimo, 1.800”, relata.

Acco relembra como o impasse com o Tribunal Regional foi resolvido. “Nós tivemos um grande mentor, que nos apoiou do início ao fim, desde que começamos a emancipação, o Dr. Arno Carraro. Imediatamente antes que a Assembleia tomasse a atitude de nos cassar, entramos com uma representação junto ao Tribunal dizendo que tínhamos preenchido esses requisitos para poder criar a cidade. Buscamos eleitores em Garibaldi, Roca Sales e Campinho. Entramos então com as medidas judiciais cabíveis, levamos o assunto para Brasília e conseguimos fazer a expansão toda para ter o número mínimo de eleitores. Assim, alcançamos 2.300 e estávamos prontos para Santa Tereza se tornar uma cidade”, expõe.

O gestor também enfatiza os avanços realizados. “Hoje eu diria que era uma cidade apagada, talvez até dissesse ‘visite Santa Tereza antes que desapareça’. Quando assumi colocamos asa delta, paraglider, a própria cancha de rodeio, a canoagem. Aquele vale parece que tem um poder de criação, que todos os filhos que saíram de lá, hoje, é difícil encontrar um que não tenha progredido na vida”, pontua Acco.

Um recanto de tranquilidade e belezas naturais

A cidade surpreende visitantes e moradores locais por suas belezas naturais, com uma paisagem formada por morros recheados de parreirais, diversos córregos e cascatas. O agricultor Michel Batista Betinelli, 36 anos, que nasceu no município, ressalta que esse é um dos pontos que mais lhe fascina. “Minha raiz é Santa Tereza. Nosso município evoluiu, mas se manteve uma cidade aconchegante para se morar. O que mais me encanta são as casas do patrimônio histórico, as belezas naturais e essa tranquilidade de poder andar na rua, deixar os carros abertos, conhecer todo mundo e poder desfrutar de toda essa paz”, salienta Betinelli.

O produtor de orgânicos, Michel Bettinelli, fazendo o que mais gosta, estar perto dos animais, em especial, sua paixão pelos cavalos

Situada às margens do Rio Taquari, os passeios de barco ou caiaque fazem parte dos atrativos. O diretor técnico da Confederação Brasileira de Canoagem, Álvaro Koslowski, 50 anos, cresceu em Santa Tereza e atualmente reside em Caxias do Sul, no entanto, retorna todos os finais de semana para sua cidade natal. “O rio e a água são pontos que tenho relação pessoal e profissional com isso, então estou aqui hoje muito por causa disso também”, aponta.

Álvaro Koslowski e sua família, a esposa Mohini Gonçalves Cerqueira, e seus filhos Mohana e Marcelo

Conquistas e anseios

Koslowski acredita que o feito mais importante para o município foi a emancipação política. “A saúde, a educação e os serviços em Santa Tereza melhoraram bastante. Não estou criticando, mas a quantidade de pessoas que Bento Gonçalves tinha que atender, não dava pra contribuir e fazer com que os distritos tivessem a qualidade de vida que temos hoje como município. No transporte, educação e saúde, avançamos muito”, evidencia.

Questionado sobre o que poderia melhorar, Koslowski discorre: “Santa Tereza precisa acreditar mais nela. Temos muitos potenciais que ficam adormecidos e precisamos acreditar mais nas pessoas, o que faz a diferença no dia a dia. Fazer com que os impostos pagos se tornem serviços de boa qualidade e principalmente, vejo muita riqueza de paisagem, de natureza, que pode ser melhor explorado”.

Com a família toda residindo há gerações na cidade, Betinelli destaca a importância do estímulo à sucessão familiar. “Temos vários jovens no município trabalhando, morando e vivendo da terra aqui, mas, cada vez mais, temos que propor incentivos para que esse jovem fique na agricultura. Seja no cultivo de parreirais, no cultivo de orgânicos, que é minha profissão, no cultivo de hortifrutigranjeiros, seja vivendo do turismo. Precisamos proporcionar aos jovens que criem família e suas raízes aqui, e não, que pensem em fazer 18 anos e fugir da cidade, porque ainda hoje acontece isso. Aos poucos a gente vem, todos juntos, tentando mudar essa realidade”, assinala.

Monte Belo do Sul: um retrato pelos moradores

Outra cidade que completou 30 anos de emancipação política no último final de semana foi Monte Belo do Sul. Com pouco mais de 2,5 mil habitantes, a maior parte da população do município, que é considerado um pequeno pedaço da Itália no Brasil, reside na zona rural.

A empresária Amanda Pamplona, 37 anos, é natural de Porto Alegre e se mudou para a localidade. “Nos apaixonamos pelas paisagens, pelas casas antigas, pelas ruas largas e pelo clima da cidade. Além disso a possibilidade de viver no campo, com uma vida mais simples e ao mesmo tempo cheia de natureza. Me encanta também a autenticidade das pessoas, a cultura presente no dia a dia e a riqueza natural”, ressalta.

Amanda complementa as diferenças de sua cidade natal para o pequeno município. “Saímos de uma cidade com mais de 1,4 milhão de habitantes para uma com menos de três mil. Em Monte Belo as pessoas se conhecem pelo nome, pela história da família, pela comunidade”, salienta.

Vista registrada por Amanda Pamplona, em seu empreendimento Senzafine Ecofazenda

O jovem economista e proprietário de uma vinícola local, Junior Calza, 26 anos, nasceu em Monte Belo do Sul e decidiu permanecer para empreender. “Tive uma vida profissional fora e decidi fazer a sucessão familiar na empresa devido ao potencial turístico da cidade, a capacidade de monetizar e viabilizar o negócio e também pelo fato da região estar em pleno desenvolvimento, angariando novos empreendimentos, gerando uma competição boa e uma evolução de todas os estabelecimentos da cidade”, destaca.

Para ele, o que mais lhe encanta no município é o espírito da comunidade local. “Um povo trabalhador, aguerrido e empreendedor, que no meio de tantas dificuldades consegue superá-las e, por diante disso, construir uma cidade mais próspera e desenvolvida”, frisa Calza.

Da esquerda para a direita, a família Calza: Rafaela, Júnior, Antoninho e Juçara

O historiador e professor aposentado, Leonir Razador, 60 anos, ressalta as mudanças que viu acontecer no decorrer do tempo. “Aqui nasci, cresci ao longo de toda a minha vida e o trabalho com a educação. Acompanhei as transformações na infraestrutura urbana e rural, estradas, saúde, educação, turismo, água, eletrificação, telefonia, dentre outros”, conta.

Segundo ele, os aspectos que mais admira na cidade são as belezas naturais, o povo trabalhador, a história e a cultura que os imigrantes deixaram como legado. “Tenho muita honra de ter sido o primeiro vice-prefeito e de ter exercido dois mandatos como prefeito. Fui também o primeiro secretário municipal de Educação. Tivemos muitas conquistas, como a ligação asfáltica com Bento Gonçalves, a pavimentação em direção ao interior do município, avanços na saúde e na educação, infraestrutura, crescimento urbano e seu embelezamento”, pontua.

O secretário municipal de Turismo, Álvaro Manzoni, comemora o aniversário do município. “Fui o primeiro presidente da Câmara de Vereadores e primeiro secretário de Cultura e Turismo. Sinto muito orgulho em comemorar 30 anos de um progresso ordenado e sendo testemunha de uma evolução que auxilia na qualidade de vida local”, celebra o titular da pasta.