Ano da proclamação da república , o Brasil tinha cerca de 14 milhões de habitantes. De cada cem brasileiros, somente 15 sabiam ler e escrever o próprio nome. Os demais nunca tinham frequentado uma sala de aula. Entre os escravos recém- libertos, o índice de analfabetismo era ainda maior, superior a 99%. A agricultura respondia por 70% de todas as riquezas nacionais, e a imensa maioria da população se concentrava no campo. Oito entre dez brasileiros moravam na área rural. O café denominava a pauta de exportação. Sozinho o Brasil fornecia cerca de 60% da produção mundial.

As fronteiras estavam definidas e consolidadas, com exceção de um trecho na região do Rio da Prata e do estado do Acre, que em 1903 seria comprado da Bolívia por 2,9 milhões de libras esterlinas em negociação conduzida pelo Barão do Rio Branco. Ao manter intacto um território pouco inferior à soma de todos os países europeus, os brasileiros haviam alcançado uma façanha que nenhum dos seus vizinhos conseguiram realizar. O Brasil se mantinha unido, enquanto a antiga América espanhola se fragmentara nas guerras civis do começo do século. Como se isso não fosse suficiente, o país tinha ainda passado por outra experiência traumática, a guerra do Paraguai, maior de todos os conflitos armados da história da América do Sul.

Internamente, a guerra produziu alguns efeitos colaterais importantes. Nunca antes , tantos brasileiros haviam juntado força em torno de uma causa. Gente de todas as regiões pegou em armas para defender o país. Calcula-se que pelo menos 135 mil homens foram mobilizados. Mais de um terço deste total, cerca de 55 mil, fazia parte do chamado corpo de “Voluntários da Pátria”, com posto de soldados que se alistaram espontaneamente.

Finda a guerra do Paraguai, o país entrara em uma fase decisiva de transformações. O resultado tinha sido a Lei Áurea, que assinada pela Princesa Isabel em 1888. Ainda como decorrência da guerra, o Exército se fortalecera. A presença dos militares como força política nas décadas seguintes seria um fator decisivo para a queda da Monarquia e a Proclamação da República.

O agentes mudavam de nome, mas os papeis permaneciam os mesmos. No lugar da antiga aristocracia escravagista do açúcar e do café , figuravam os grandes fazendeiros do oeste paulista e de Minas Gerais. Onde antes havia barões e viscondes, entravam os caciques políticos locais, muitos deles, curiosamente , antigos coronéis da Guarda Nacional, dando origem a expressão “coronelismo”.
A história ainda tem muito a nos contar…
Enquanto isso: vamos comemorar os 15 de novembro como feriado nacional.