Embrapa avalia que calor e chuvas em excesso prejudicaram safra, mas setor ainda demonstra otimismo com resultados

Segundo análise da Embrapa Uva e Vinho, o mês de janeiro foi o mais quente dos últimos 43 anos em Bento Gonçalves. Ou seja, desde 1976 não fazia tanto calor neste período do ano. Somadas a isso, as chuvas excessivas prejudicaram o desenvolvimento da uva. A Embrapa avalia que está sendo necessário produtores utilizarem tecnologia de forma mais assertiva para reduzir os danos ocasionados pelo clima.
O vice-presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Marcio Ferrari, reitera que o calor foi fora do comum e que a conjuntura climática causa preocupações ao setor. Para ele, as temperaturas foram mais intensas desde o início da história da imigração italiana no estado.
Se a tendência é de que haja invernos muito frios e verões muito quentes, com seca, Ferrari vê o cenário com preocupação. “Isso pode ser resultado da mudança climática. Pelas características geográficas da região, seria difícil conseguir água para irrigação”, comenta. Ele enfatiza que o cenário deveria preocupar a todos.

Perspectivas para a safra

De acordo com Ferrari, no início de janeiro houve vários dias de chuva que prejudicaram as variedades precoces. Mesmo assim, ele avalia que a qualidade está boa, embora não como no ano passado. “A previsão é de que não tenha chuvas que podem prejudicar a uva de maneira acentuada”, analisa.
A perspectiva é de que a quebra seja de em torno de 20% entre uvas para processamento e in natura. A Emater também prevê um cenário parecido. “Se acontece a entrada de ar seco os problemas se resolvem muito rapidamente. Agora vamos começar a colheira de Isabel, então isso vai ser fundamental. Conclusões mesmo nós só vamos ter após o fim da safra”, explica.
Se algumas uvas estão piores do que no ano passado, em outros casos Ferrari aponta que a qualidade pode surpreender. “Nós temos bordô entrando em vinícola com 15 graus. A expectativa é de que não seja tão bom como no ano passado, mas nem tão ruim”, avalia.

Condições pouco favoráveis para elaboração de vinhos

O prognóstico da Embrapa Uva e Vinho dá conta de que o calor atípico e o excesso de chuvas estão tornando a safra difícil. De acordo com o chefe geral da instituição, Mauro Zanus, em função das condições de inverno e da primavera, algumas variedades estão atrasadas se comparadas ao ano passado.
Ele expõe que entre o final de dezembro e início de janeiro, começaram chuvas bastante intensas. “Janeiro foi muito quente, atípico, com uma temperatura média maior desde 1976, além de ter chovido bastante”, avalia.
À exceção de alguns vinhedos bem localizados, que
garantiram um bom vinho base para espumantes, e produtores que aplicaram tecnologia, Zanus aponta que o primeiro módulo foi bastante complicado. “As condições não estão tão favoráveis para elaborar vinho como no ano passado”, compara.

Melhora no grau da uva

Já neste período de colheita das variedades intermediárias, o chefe da Embrapa prevê uma pequena melhora. Ele explica que o tempo mudou um pouco e teve um período ensolarado nos últimos dias, o que melhorou o grau da uva. “Na semana passada foi possível colher uvas melhores”, afirma.
A perspectiva para garantir qualidade é de que os dias sejam ensolarados. “Depende muito de como for o quadro a partir de agora”, comenta
Neste cenário de incertezas, Zanus enfatiza que o cuidado com o vinhedo é algo fundamental. Ele também afirma ser cedo para fazer prognósticos sobre a qualidade do vinho, na medida em que os profissionais podem adotar estratégias para amenizar as adversidades enfrentadas na agricultura. “Se houver chuvas um pouco acima do normal, é sempre um desafio. Mas ainda se pode fazer vinhos tintos mais jovens ou ter um cuidado microbiológico maior”, indica.