Tum-tá, tum-tá, bum-bum-bum… Carnaval no meio do nada? Impossível! Até porque aquilo vinha de dentro. Lembrava uma arritmia cardíaca, como se uma das bombas que impulsionam o sangue estivesse meio engasgada… Ou como se uma úlcera, típica de quem engole sapos, estivesse provando arrotos.

Enfim, o cara dirigia preocupado. Seu feeling lhe dizia para aliviar o pé do acelerador e prestar mais atenção aos sinais que já estavam se repetindo há uma semana, mas sua razão lhe ordenava que pisasse fundo. Tempo era dinheiro.

Outra curva da estrada que parecia não ter fim. O movimento meio brusco desencadeou novamente a sensação de que algo muito errado estava acontecendo…

Deu sinal para encostar. Mas, sinal para quem? Não havia viva alma nem atrás, nem à frente, nem nos lados… só no alto. Eram corvos que traçavam círculos, sempre dentro do perímetro do veículo em movimento. “Isso não é bom, não mesmo!”, sussurrou para seu eu interior.

Supersticioso, puxou o carro novamente para a faixa. E para despistar a apreensão, passou a cantarolar “Sinais” de Luan Santana: “Vi seu sorriso em meu sonho/Segui seu rastro na areia do deserto/Eu escutei sua voz ao vento…

Um quilômetro depois…Tum-tá, tum-tá, bum-bum-bum…

-Epa! De novo, não!

Enquanto diminuía a marcha, um filme inteiro passou pela sua cabeça, do mesmo jeito que acontece quando turbulências sacodem os aviões… É aí que vêm à tona, o que o sujeito fez, o que não fez e o que deveria ter feito… No caso dele, passou a limpo cenas de histórias conhecidas em que médicos haviam esquecido dentro do corpo do paciente, gazes, pinças, tesoura, bisturi, luva, máscara, agulhas, bala de menta… Bala de menta? Ah! Este episódio fora interpretado pelo Mr. Bean.

Refletiu que era até compreensível, numa sala de cirurgia, sob forte pressão, em condições desfavoráveis e circunstâncias adversas, a ocorrência de eventuais esquecimentos. Às vezes, é mais importante estancar a hemorragia ou costurar o abdômen, do que perder minutos preciosos garimpando a cavidade à procura de materiais ou objetos camuflados. “Tudo bem!”, pensou com seus botões. E acrescentou: “Tudo bem, desde que não aconteça comigo!”.

Finalmente decidiu-se. Parou no acostamento, ainda no meio do nada. Arregaçou as mangas e abriu o capô do carro, intuindo que o “cirurgião mecânico” havia deixado uma “lembrança”. O cara fuçou, remexeu, escarafunchou e… explodiu em voz de tenor, assustando até os “garis da natureza”, que voaram mais alto:

-F…da…P…!

Uma chave de fenda do tipo cachimbo cutucava a engrenagem. Mais alguns metros e “BOOM!”