Se Raul Seixas ainda protestasse cantando ou cantasse protestando nesta dimensão, entraria em surto de felicidade, afinal o seu “sonho de sonhador” está na pauta do(s) dia(s). Um sonho ao contrário, mas com a mesma força política. Afinal, “no dia em que todas as pessoas do planeta inteiro resolveram que ninguém ia sair de casa” equivale ao dia em que todas as pessoas foram às ruas. E a Terra realmente parou, nem que só para olhar.

Está certo! Eu ainda não fui, talvez, nem você. Poderia justificar contando que somos de uma geração que esteve amordaçada por muito tempo e que, apesar dos avanços democráticos, ainda não nos sentimos totalmente libertos.

Somos frutos de uma escola onde a disciplina de Moral e Cívica era ostensiva. E, condicionados pelo meio, de modo geral, não se alimentavam sonhos “malucos beleza”, ao menos não por estas bandas, onde as informações demoravam a chegar ou chegavam distorcidas.

Hoje, a situação é totalmente outra. As redes sociais são forças mobilizadoras de ideias, de causas, de protestos. Os jovens são os mais conectados, mas, como a mídia virtual chegou para ficar, os mais velhos estão se adaptando aos novos tempos. Ao menos, é o que as ruas mostram: gente de todas as idades está aí, engrossando os movimentos.

A interpretação é diversa. Há quem acredite que o “gigante” esteja finalmente acordando do seu “berço esplêndido”. E há quem diga que isso tudo é manobra, que a massa é manipulada por interesses escusos e que a verdade, um dia, irá aparecer. Mas, se não existe verdade absoluta, como já dizia Platão, temos aqui meias-verdades ou meias-mentiras. O certo mesmo é que o ser humano tem sua consciência e seu enorme leque de escolhas. E a grande massa escolheu protestar porque compreendeu que o sonho não se realiza por mágica – “quem quer não espera acontecer”.

O ideal seria que todos caminhassem na mesma sintonia, sem violências gratuitas, que só servem para denegrir a legitimidade dos protestos de quem quer soltar a voz porque cansou de não ter vez.

E por falar em sonho, nunca foi tão real e atual “O sonho de Martin Luther King”, de 28 de agosto de 1963, quando disse que “precisamos conduzir nossa luta, para sempre, no alto plano da dignidade e da disciplina. Precisamos não permitir que nosso protesto criativo gere violência físicas. Muitas vezes, precisamos elevar-nos às majestosas alturas do encontro da força física com a força da alma. Não podemos caminhar sozinhos. E quando caminhamos, precisamos assumir o compromisso de que sempre iremos adiante. Não podemos voltar”.