Sobre São Jorge e Dona Gema

Quando eu era guri circulava que, as meninas, não queriam saber de namorar rapazes que não fumassem e que usassem sapato acima do nº40, os de PÉ GRANDE. Eu calçava 41, se eu fosse índio meu codinome então seria “PÉ GRANDE”. Mas eu tinha um segredo, recolhia os dedos para poder calçar 40 nos eventos sociais. Meus dedos encolhidos, mais o fato de que, com meu chinelo de dedo, ter chutado dezenas de pedras; mais as chuteiras “feitas de pedra” iguais às do FRED (Flinstones) com as quais eu jogava no futebol amador e no Colégio (eu disse jogava?); e, mais um monte de coisas que caíram em cima de minhas unhas “do dedão dos pés”, me condenaram a perda de várias unhas.
Veio o demorado “renascimento”, assim como o “encravamento”. Eu então assumi quatro palavras mágicas a esta altura do campeonato:

Tacchimed – check up – médicos – podóloga.

Com base no lema “problema comigo nasce morto” levei minha vigilância ao extremo até que um dia, um dos meus médicos, me disse “tá procurando chifre em cabeça de cavalo”? Me acalmei. Agora estou mais reservado, porém vigilante pois “o seguro morreu de velho”. Buenas tchê (semana Farroupilha vem aí), nesta quinta eu fui para a podóloga, visita mensal. Ao sair, olhei para o alto e lá estava uma estátua do SÃO JORGE. Perguntei “tu é devota de São Jorge”? Veio a resposta, “ganhei da Dona GEMA”, eu emendei “Dona GEMA DE GASPERI”? E ela “sim, eu gosto muito da Dona GEMA, ela está se recuperando bem”. Deduzi que ela não tenha passado por bons momentos, tem certa idade. Antes de sair eu disse “Dona GEMA é uma pessoa muito especial”. No elevador e, no caminho de casa, rememorei meus encontros com ela, morava no mesmo Edifício De Gasperi. Uma pessoa cordial, te olha nos olhos, ri com eles, pergunta sobre todos, é “classuda”, elegante, eu diria até, de forma poética, que ela é “uma rosa no roseiral de mulheres de personalidade marcante e que fazem a diferença”.

A Bike

Eu tinha uns quatro, cinco ou 6 anos, de vez em quando, compulsoriamente, vinha, do “BARRACÃO CITY”, visitar minha vó, a da cabra, com quem morei mais tarde. Ficava com ela uns 3 a 4 dias. De manhã, pelas 10 horas, meu avô, que tinha um mini moinho em frente de casa localizada perto do então prédio da Todeschini, recebia, das mãos da vó ou do “mula” aqui que vos escreve, bolinhos de chuva, pane e vino. Ele comia um bolinho, pegava um pedaço de pão, mergulhava no copo de vinho e comia. Ele, literalmente, abreviava o “caminho da roça”. Um dia desses, meu avô não estava no moinho, perguntei sobre ele e minha avó disse “ele deu uma saída e, na volta, vai te trazer um presente”.

Sentei na frente de casa e o degrau da escada de vez em quando reclamava que a bunda estava quente demais. Então eu levantava, ia para o meio da estrada e ficava olhando lá pelos lados da Comercial Fornazier, única direção da qual ele poderia estar vindo, “depois de ter ido receber dividendos da TODESCHINI” é que não era. Passaram-se três horas de angustiante espera e, lá veio meu avô. Adivinhem? Carregava, em torno do pescoço uma bike triciclo, “de três rodas” como diria o saudoso Generino Rinaldi que, segundo o mulherio da época, “era mais bonito que o Brizola”. Imaginem a minha alegria, eu ganhara a minha primeira bici, passei o dia todo em cima dela, o leite de cabra passou a ser apenas um “detalhe”.

Com a minha bici eu ia andar na frente da casa da Clari Francio, que tinha calçada. Eu andava sempre por lá, janelas abertas, cortinas ao vento, olhares fixos, eu queria ver Clari, ela era e, ainda é, lindona. Mas, ela quase nunca estava em casa. Então, resumindo a ópera, as visitas a minha vó se concentravam em: ver a Maria Fumaça, passando nos fundos da casa, junto a horta; levar o desjejum ao “Marcelino Pane e Vino” (meu avô); andar na minha bike e espiar se a Clari Francio estava em casa. “A vida era bela” também nos meus 4, 5 e 6 anos.

Santo Antão
Minha avó nasceu em Santo Antão, minha mãe também. Numa casa que ficava em frente à Igreja. Meu pai vinha, com a “mula das onze”, do Barracão, via Sertorina, visitar minha mãe, adivinhem? De gravata, terno, chapéu e, de mula. E assim nasceu nosso querer por Santo Antão, acho que os DE GASPERI também. Eles tinham lá uma CASA COMERCIAL, daquelas dos imigrantes, grandona. Meu avô comprou lá minha bici e a carregou no pescoço todo o longo trajeto. A partir desse dia ficou “corcunda”. O local em que estava a CASA COMERCIAL DE GASPERI foi transformada em um sítio, de grande beleza ecológica. Não sei se é porque “SOMOS TODOS SANTO ANTÃO”, ou porque morava no EDIFÍCIO de GASPERI, em cujo térreo a COMERCIAL DE GASPERI DE SANTO ANTÃO passou a ser FERRAGEM DE GASPERI no centro de Bento, quase que diariamente eu entrava para conversar com seu Albino (marido da GEMA), com o Ilvo, olhava toda a loja, especialmente ferramentas (embora “alérgico” a usá-las), facas, facões, brítolas, canivetes, tesouras. Essas coisas me provocavam uma “atração fatal”. Tinha ali uma balconista, o nome não lembro, mas o sobrenome parece que era Guindani, era severa e adepta ao lema “tocou, comprou, pagou”. Eu dava curva nela, pô eu era relações públicas da loja e ela não entendia. Ou eu era “chato”, façam a leitura que quiserem.

Dorvalino, o Lovera
Dorvalino Lovera fica antenado nos meus escritos, ele faz juízos críticos, adendos, observações, todos do meu agrado. Esse meu dileto amigo, que serviu – acho que ainda serve – Bento de todas as maneiras num estilo rotaryano “sem pensar em si”, fez o caminho de SANTIAGO DE COMPOSTELA integral, foram 1.600 km a “pézito”, em três meses, em busca da purificação e eu aqui pecando “por palavras, atos e omissões” como diria o Pe. Manica. Lovera era fofo, de olhar analítico. Agora ele está magro, de barba longa, mesmo olhar analítico, fala mansa. Dia desses eu vinha fazendo o “CAMINHO DA PODÓLOGA” me encontrei com ele e disse “estou me encontrando agora com o ‘beato’ Lovera, by SANTIAGO DE COMPOSTELA”? Ele lascou “tô voltando pra lá, agora vou fazer o três mil quilômetros”. Reconstituíram o percurso original que parte da Espanha e ele vai fazer a pé. A pergunta é: “como voltará o Lovera? Barba de Santo ele tem, magreza de Santo ele tem, o caminho todo ele vai fazer, voltará beatificado? Na visão dos amigos ele tem todos os predicados de ser enquadrado como “um Santo Homem” diria minha avó.

A purificação ele já fez, agora estará no rumo da beatificação? Estou brincando mas vejo com muita simpatia SANTIAGO DE COMPOSTELA, diga-se que cheguei até a participar de uma ideia de planejamento para fazer o caminho, mas eu de bicicleta. Começamos, um grupo de amigos, a planejar melhor, veio a divisão: “eu vou a pé”, “eu vou de carro” e, eu, “vou de bicicleta”. Mas, se furar o pneu, se quebrar a suspensão, como vou acionar a CICLES JAMAR ou a SCHANATO BICICLETAS? Ficamos todos só no espírito do LOVERA, medalha de prata no CAMINHO DE COMPOSTELA agora em busca da medalha de ouro.

JESUS TE AMA LOVERA, NÓS TAMBÉM, SANTIAGO TE PROTEGERÁ,

o PAPA estará de olho. Seja feliz. A propósito, uma pergunta: tu vai usar Nike ou Adidas? De qualquer forma cuida das unhas, pois elas poderão encravar o que te obrigará fazer também o “CAMINHO DA PODÓLOGA”.