Empresas precisam de pessoas que falem duas ou mais línguas, mas ainda têm dificuldades para suprir quadro

O inglês já se tornou língua essencial para muitas vagas de emprego disponíveis no mercado de trabalho, tanto para quem é mais qualificado como para aqueles que estão no início da carreira. Segundo informações do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), o idioma é pré-requisito em 90% das vagas de estágio abertas no Brasil. Em Bento Gonçalves, o setor moveleiro ainda percebe carência na área, enquanto o turismo vê uma evolução e aponta déficits pontuais, em alguns momentos do ano.
De acordo com informações da Associação das Indústrias de Móveis do Rio Grande do Sul (Movergs), a procura está maior do que a oferta por estes profissionais no setor moveleiro. A questão está associada com a ampliação no número de empresas que buscam o mercado internacional.
Para o diretor internacional da Movergs, Marcelo Haefliger, o estudo de línguas é fundamental para a vida profissional e pessoal. “O mundo é um único ‘país’, há poucas fronteiras para a comunicação, sobretudo depois do advento das redes sociais”, avalia.
As línguas mais valorizadas no setor moveleiro são espanhol e inglês, consideradas básicas. “Nós somos os únicos na América Latina a falar português, por isso o espanhol é importante, pela proximidade com os países latinos”, comenta. A principal área de atuação é o comércio exterior, seguida por engenharia, marketing e TI.
Haefliger destaca que outro fator levado em conta é o mercado de atuação das empresas, que com frequência precisam de profissionais com domínio de idiomas específicos. “Por exemplo, se a empresa exportar para a África haverá necessidade do francês em função de vários países falarem esse idioma. Se for para Europa, depende do país, mas, por exemplo, o alemão também será necessário. O italiano é muito valorizado pela influência do design e o intercâmbio existente com nosso mercado moveleiro, sobretudo pela Feira de Milão, mundialmente conhecida e que atrai milhares de brasileiros anualmente”, explica.
A demanda por pessoas qualificadas em línguas estrangeiras aumenta nos períodos de feiras, sobretudo durante a Fimma e a Movelsul, devido ao número de importadores que chegam à cidade. “É ainda maior no setor de serviços, isso é uma demanda latente e que a cidade precisa melhorar e muito”, considera.

Até os pequenos buscam se adaptar

A presidente do Conselho Municipal de Turismo (Comtur) e diretora do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria (Segh), Márcia Ferronato, entende que é necessário criar a cultura de falar outra língua, embora a situação tenha melhorado bastante nos últimos tempos. “Quando os eventos solicitam, a gente percebe que mesmo os pequenos empreendimentos buscam se adaptar, nós notamos um movimento para melhorar cada vez mais”, considera.
Na sua opinião, existe uma boa oferta de cursos na região, inclusive alguns foram subsidiados. Do outro lado, Márcia ressalta a necessidade das instituições trabalharem em conjunto para incentivar a prática de outros idiomas. “A própria escola tradicional precisa estimular isso. A comunidade como um todo precisa criar a cultura de falar outra língua”, avalia.
Márcia vê a atual demanda como pontual, na medida em que alguns períodos do ano a qualificação em questão se torna mais requisitada. “O inglês é essencial, mas o espanhol também pode ser trabalhado melhor, por conta das fronteiras do Brasil. A escolha dos idiomas também depende do perfil do profissional”, recomenda. Ela comenta que os profissionais precisam estar prontos para atender o turismo de negócios e de lazer. “Fico contente em ver que está melhorando”, avalia.

Exigência não é unanimidade

No FGTAS/Sine de Bento Gonçalves, o cenário é diferente. De acordo com o coordenador do órgão, Sandro Castagnetti, dificilmente ocorrem vagas onde a exigência seja falar em inglês, mas o 2º Grau completo já é algo padrão em praticamente todas concorrências por emprego. “Esse é nosso contexto, mas em uma situação maior, a pessoa que não tiver inglês não consegue prosperar, é um quesito essencial e básico”, avalia. No caso dos candidatos terem inglês, Castagnetti avalia que pode ser ponto extra nas seleções do Sine. “Tranquilamente o candidato sai na frente”, comenta.
Segundo a supervisora de Inclusão Social do CIEE, Lilene Ruy, a maior parte das empresas visa expandir relações em nível global, algo que antes se limitava àquelas de grande porte. “Em alguns casos, a empresa também pede conhecimentos em espanhol, muitas vezes de olho nas relações comerciais com vizinhos como a Argentina e o Uruguai”, expõe.