José Carlos Zortéa aponta necessidades da entidade e comenta os desafios a serem vencidos no combate à violência em Bento Gonçalves

Responsável em comandar as atividades do Conselho Comunitário Pró-Segurança Pública (Consepro) de Bento Gonçalves, José Carlos Zortéa propõe que a entidade estabeleça um planejamento estratégico e prepare novos projetos que visem o combate às causas e não apenas estancar a sangria das consequências, quando o assunto se volta à violência. O líder acredita ainda que a comunidade deve estar esclarecida sobre a destinação de recursos recebidos através de doações e campanhas praticadas ao longo do ano. Outro objetivo é reforçar a cobrança junto ao governo estadual.

Em visita à sede do Sistema S de Comunicação, Zortéa conversou com a reportagem do Semanário e pontuou os principais desafios de sua gestão à frente do Conselho. Para ele, é necessário que haja um trabalho inteligente para estimular e provar o que é necessário e será bom para a sociedade. De acordo com Zortéa, o Consepro precisa valorizar, estimular e divulgar à comunidade que as ações e campanhas realizadas não estão ligadas à serviços da Administração Pública, como é o caso do envio de boletos de contribuição espontânea, anexados aos carnês do IPTU desse ano. “É necessário que a comunidade tenha conhecimento do que é o Consepro e qual a sua finalidade. Existe uma certa ‘confusão’, dando a entender de que pertencemos a um órgão público, como a prefeitura, por exemplo. E isso não é verdade. Somos independentes. Pertencemos a comunidade de Bento Gonçalves”, explica.
Para ele, é preciso desmistificar algumas informações que correm pelo município, como é o caso da guia de contribuição espontânea, que está anexada ao carnê do IPTU 2019 em Bento. Ele explica que a ideia de enviar junto com o imposto municipal, visa reduzir custos para a entidade. “O dinheiro arrecadado através desse boleto vai direto para a conta do Consepro. Nada passa pela prefeitura de Bento. Apenas utilizamos o carnê para facilitar o envio”, comenta.

Baixa participação em 2017

Zortéa acredita que a baixa participação da campanha em 2017 ocorreu devido ao pouco conhecimento da população quanto a finalidade da contribuição. Ele aponta que o curto espaço de tempo entre a autorização, emissão e distribuição dos boletos possam ter ocasionado a baixa arrecadação, que girou em torno de R$ 30 mil. Em 2019, o projeto volta a ser executado. Questionado sobre a demora para a divulgação da campanha, Zortéa explica que os mesmos problemas da primeira edição afetaram novamente esse ano, prejudicando uma divulgação mais ampla da campanha. “Realmente, o tempo de publicidade ficou pequeno, porque nós dependíamos de uma série de fatores que fogem do nosso alcance. De nada adiantava nós divulgarmos no início do ano, como era o objetivo, sem finalizar toda a operação com os dados da prefeitura. Tudo isso ocorreu há pouco mais de 15 dias”, explica.

Uma das formas, segundo Zortéa, para que a campanha ganhe força e consiga alcançar seus objetivos é mostrar à comunidade que a entidade não está vinculada a nenhum órgão público. “O Consepro não se mistura com o IPTU, Taxa de Lixo. A guia junto ao carnê está simplesmente embarcada para chegar ao contribuinte”, observa. Ele acredita que apesar das dificuldades em arrecadar os recursos, os valores conquistados com as contribuições ajudam a entidade a desenvolver o seu trabalho durante o ano. “É uma oportunidade que a população tem em ajudar a segurança pública em Bento. Infelizmente, sabemos que o Estado não consegue manter os serviços e cabe a nós, cidadãos, fazermos a nossa parte para mantermos a segurança ao nosso redor. Se não há aporte do governo, que deveria fazer, buscamos uma solução”, enfatiza.

Valor poderia chegar a R$ 1 milhão

A estimativa, segundo o presidente da entidade é de que se todos os mais de 70 mil carnês distribuídos fossem pagos, a receita que chegaria aos cofres do Consepro giraria na casa de R$ 1 milhão. No entanto, nas perspectivas da diretoria, o valor que deve ser arrecadado alcançará a marca de R$ 40 mil, o equivalente a pouco mais de quatro por cento do total. “Quereremos crer que superaremos esse valor. Vale a pena fazer a população entender para onde vai o dinheiro. Me parece que ainda não está bem claro essa informação aos olhos da comunidade”, pondera. O pagamento da contribuição pode ser efetuado até o dia 11 de março. “Ainda não temos uma estimativa real, pois muitos dos carnês só vão entrar no sistema no dia do vencimento”, explica.

Prestação de contas em março

Uma audiência pública no mês de março deve ser realizada pela entidade para apresentar à comunidade os números com os valores aplicados pelo Consepro ao longo do ano passado no município. Conforme Zortéa, a população terá acesso a todos os pagamentos efetuados e onde todo o investimento foi realizado. “Vamos apresentar não apenas o que recebemos de contribuições, mas também, tudo o que investimos nos projetos e atividades ao longo do ano passado”, esclarece.

Aquisição de novas câmeras de monitoramento está na pauta

Entre as perguntas feitas ao presidente do Consepro, foi questionada a eficácia das câmeras de monitoramento instaladas em Bento Gonçalves. Na sexta-feira, 8 de fevereiro, pelo menos 10 detentos do sistema aberto e semi-aberto do Presídio Estadual de Bento Gonçalves fugiram do albergue após abrirem um buraco numa parede que dá acesso à rua Assis Brasil. Na ação, quatro deles entraram em um táxi que os aguardava nas proximidades. Perto da casa prisional, há instalada uma câmera que tem por objetivo monitorar a movimentação da região, no entanto, naquele episódio, o aparelho não estava funcionando.

Zortéa disse que apesar da Brigada Militar possuir um sistema moderno de vigilância por câmeras, através de um centro integrado, há deficiências na qualidade dos aparelhos instalados na cidade. Segundo ele, há câmeras que não conseguem enviar comunicação à sala da BM, por terem tecnologia antiga, incapaz de convergir com o atual sistema. “Em muitos casos, há câmeras estáticas, de baixa qualidade visual, o que dificulta qualquer trabalho realizado. Há um projeto para aquisição de nova aparelhagem, no entanto, estamos aguardando a finalização da criação de comitês no governo estadual, para encaminhar via Lei de Incentivo à Segurança Pública”, explica.

Campanha de prevenção contra as drogas deve ser lançada ainda no primeiro semestre

Dinheiro arrecadado através de doações e campanhas é investido na manutenção dos serviços de segurança pública. Fotos: Ranieri Moriggi

Conforme Zortéa, ainda no primeiro semestre de 2019, a entidade deverá elaborar campanhas de combate ao consumo de drogas, que segundo ele é o principal fator responsável pelo aumento da violência na sociedade. “Precisamos pensar mais no combate às causas do que nas consequências. Eu, como presidente do Consepro gostaria de fechar as portas da entidade e explico o porquê: se quem deveria fazer a sua parte (governo) a fizesse, não haveria necessidade em termos a entidade funcionando. Mas, nesse momento não há como pensar nisso”, ressalta.

Apesar de bater recordes no número de homicídios no ano passado, quando mais de 50 pessoas foram assassinadas, Zortéa afirma que outros índices apresentaram queda, seguindo a tendência de outras cidades. “Mesmo com a quantidade de homicídios, a maioria ligados ao tráfico de drogas, pelo que se tem conhecimento, em outros índices, os números tiveram queda. Se comparado a períodos anteriores, tivemos redução de mais de 20% em alguns casos. Eu acho que nós estamos bem. E se esse é o sentimento, é porque a comunidade não se acomoda. Se não há aporte do governo que deveria fazer, a gente busca uma solução”, finaliza.