Números voltados para a saúde mental apontam para uma preocupação em como dar conta de atender uma demanda que está em linha constante de crescimento. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) divulgou recentemente que as internações psiquiátricas subiram 24,7% em dois anos no Brasil, enquanto as consultas do mesmo tipo, por plano de saúde, apresentaram aumento de 19,5%.

Indo na mesma direção, o cenário em Bento Gonçalves também está em ritmo de ascensão quando o assunto é psiquiatria. De acordo com o Secretário de Saúde, Diogo Segabinazzi Siqueira, 609 pacientes foram atendidos para avaliações psiquiátricas em 2018 na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade. Nesse período, a média mensal de atendimentos foi de 50.75, enquanto a média desse ano já superou a do ano passado, sendo atualmente de 58.5. Até o final de agosto, foram atendidas 468 pessoas.

Dentro desses números, alguns pacientes apresentam quadro mais grave, necessitando de internação. Entretanto, Siqueira admite que a cidade possui uma limitação para atender essas situações. De acordo com o secretário, por meio de um convênio firmado, o município regula 15 leitos dentro do Hospital Tacchini, que geralmente está com a capacidade máxima ocupada. “A gente não tem ampliação de vagas há muito tempo no hospital, então obviamente não tivemos aumento do número de internações porque já estamos com a capacidade máxima ocupada a algum tempo. Em compensação, tivemos aumento do número de atendimentos no CAPS e dentro da própria UPA, então esse número acompanhou o do Brasil”, analisa Siqueira.

Além dos leitos do hospital, dentro da UPA tem quatro quartos específicos para a psiquiatria e dois próprios para isolamento, usados quando o quadro é mais crítico e o paciente precisa ficar sozinho. “O projeto da UPA é padrão em todo Brasil, quando foi criado, há cerca de 15 anos, preconizava quatro camas psiquiátricas para 250 mil habitantes. Na época funcionava, era suficiente, só que esse número foi aumentando exponencialmente. Hoje a gente não consegue atender todos os pacientes nesses quatro leitos, então abrimos os femininos e masculinos e mantemos os pacientes psiquiátricos junto com os casos clínicos”, expõe.

Quando não há mais vagas para internações, o paciente precisa aguardar na UPA até que surja um leito disponível no Hospital Tacchini. Hoje, segundo Siqueira, dois pacientes estão aguardando nessa fila, mas esse número é muito variável.

Outro dado cedido pelo secretário Siqueira que comprova esse aumento da demanda na saúde mental está nos números de atendimentos realizados dentro dos Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Bento. A cidade conta com três. O Caps Álcool e Drogas (AD); Caps II para pacientes adultos e o CAPS I para crianças e adolescentes. De acordo com Siqueira, durante o ano passado, 5.718 pessoas foram atendidas nesses órgãos. Esse ano, 4.128.

Causas do aumento

Drogas e álcool, estão entre as principais causas apontadas por Siqueira para justificar esse aumento da demanda na saúde mental. “O primeiro passo é tentar diagnosticar o paciente e descobrir se o problema é físico ou neurológico. Se não é, entra na psiquiatria e é aí que estamos vendo muitos casos de álcool e drogas, principalmente crack, que é o que está realmente arrebentando com tudo”, afirma.

Outro agravante desse cenário são os casos de pacientes com depressão profunda e que atentam contra a própria vida. “Pessoas com tendência suicida, que colocam em risco a própria saúde, a saúde dos outros, essas são as internações que a gente tem que fazer”, alega Siqueira.

Perspectiva para o futuro

Se hoje o município enfrenta dificuldades para dar conta da demanda, a tendência é que o desafio se torne ainda maior nos próximos anos. É que, de acordo com Siqueira, daqui onze anos a população de idosos em Bento Gonçalves terá dobrado, o que deverá acarretar em um aumento significativo na procura por atendimentos psiquiátricos. Ciente disso, Siqueira admite que é preciso se programar para essa situação.

O secretário frisa que com a estrutura atual não será possível suportar a população daqui a dez anos. “Vamos ter que ampliar essa capacidade de atendimentos. A gente precisa ter o hospital público municipal. A única forma de ampliarmos os leitos da psiquiatria é ampliando a nossa capacidade de atendimento”, afirma.

A ideia para dar conta da demanda é ter dentro do hospital público, que está com as obras em andamento, mas sem previsão de conclusão, uma ala de psiquiatria. “Precisamos no mínimo dobrar a capacidade instalada hoje. Não precisamos tirar os leitos do Tacchini, mantemos os leitos lá também, mas a gente expande dentro do nosso hospital público uma ala da psiquiatria”, explica Siqueira.

Recursos

Para manter firmado o contrato com o Hospital Tacchini, de acordo com Siqueira, o Estado investe por mês R$ 33 mil, valor que está em atraso há três meses. Os outros quatro leitos mantidos no hospital são oriundos de verba federal, no valor de R$ 22 mil por mês.

Para a manutenção dos CAPS, o Governo do Estado paga por mês R$ 12 mil, enquanto o Governo Federal investe R$ 96 mil mensais.