Ninguém mais tem paciência. Ela virou artigo de luxo. As pessoas não têm paciência para ensinar, para esperar, para amar. Não têm paciência de ficar solteiro, nem de namorar. Se estão sozinhos reclamam que ninguém os quer, se estão com alguém reclamam que estão sendo sufocados. Talvez isso seja um pouco de falta de saber o que se quer da vida, não é?
Ter paciência virou uma arte, e, por ser arte, ela torna-se para poucos. Na verdade acredito que toda a evolução tem um custo e tudo o que temos e vemos hoje surgiu às custas de pessoas sem paciência moldando pessoas com paciência. Eu, por exemplo, posso dizer que a minha paciência se reduziu pela metade depois de conviver com certas pessoas. Ou eu me adapto, ou sou devorada pelos predadores.
Mesmo tendo sofrido com a “seleção natural”, ainda sou uma pessoa com boa paciência e resiliente. Isso só até o meu limite dizer “oi”. Isso mesmo, você faz o que quiser de mim enquanto eu tiver paciência, depois disso, aconselho a se distanciar. Se eu tenho um ponto fraco no quesito paciência, é a espera. Sou uma pessoa meticulosamente pontual, salvo raras exceções por motivos muito pertinentes. Por ser assim, eu espero o mesmo das pessoas ou, no mínimo, uma consideração de um atraso aceitável, ou um aviso com prazos verdadeiros. Nesse momento de fúria animal, – meu pecado mortal, meu demônio interior – qualquer hierarquia é destruída:
(Marido)
– Eu quero o divórcio, não importa se são 15 anos juntos, felicidades a mil, o combinado era as 19h. Fico com a casa na praia.
(Filho)
– Você ainda não está pronto para a escola? Você quer que a sua mãe morra? É isso mesmo?
(Papa)
– Vossa Santidade está 1 hora atrasada, dava para sair na janela na hora combinada?
Com todo o respeito à Vossa Santidade, foi uma forma de expressar que não estou exagerando. Provável que eu não vá fazer, mas vou querer matar se me deixar esperando. Com o tempo você vai se habituando ao atraso de algumas pessoas, então, se o combinado é às 17h, eu começo a me arrumar essa hora. Mas teoricamente isso não conta, porque eu estou é me enganando, não fazendo terapia para aceitar isso. Enfim, foi o jeito que encontrei de prorrogar o meu infarto.
Fora isso, sou muito paciente. Eu relevo várias vezes, dou inúmeras chances. Talvez eu saiba o porquê disso: eu gosto de ter certeza das coisas que faço. Claro que, algumas vezes a gente nunca vai ter; ou vai ter somente mais adiante. Mas, no geral, antes de tomar qualquer decisão, testo tudo o que dá para entender que aquilo não é mais bom para mim. Isso serve para trabalho, moradia, pessoas. Fico no emprego até entender que nada mais posso fazer por aquele lugar e vice-versa. Moro no mesmo lugar até ver que eu não suporto mais a energia dele de jeito nenhum. Sou amiga das pessoas até ver claramente que elas não querem ser minhas amigas, mas estão ali por outros motivos.
Quem sabe eu ainda tenha tanta paciência porque sempre vejo os dois lados. Todas as vezes em que fui explosiva, impulsiva, me arrependi. Ou por ter magoado alguém, ou por ter escolhido mal as palavras. Depois que você as pronunciou, pode até pedir desculpas e pode ser que você não tenha pensado no que elas realmente significavam, mas a pessoas que as ouviu nunca vai acreditar em você.
Por outro lado, há pessoas que se aproveitam da gente e essas não merecem nossas considerações. Mas calma, esse é um assunto para a crônica da próxima semana. Vamos, tenha paciência!