Aconteceu outra vez! O texto “Casa Cheia” tomou Doril! Só ficou o rascunho… Talvez eu seja mais “analfabite” do que possa imaginar minha vã filosofia… Enfim, cá estou, em plena sexta-feira, de tela vazia. Que remédio! O jeito é buscar uma crônica antiga e dar uma repaginada. Vou deixar por conta do mouse… Anda, anda, anda… Parou! Vejamos: trata-se da busca de um certo celular que ficou perdido no… Mas vamos ao texto:

A história abaixo aconteceu num lugar paradisíaco, onde a natureza resiste bravamente para não ser engolida pela cidade, que avança num ritmo contínuo e ameaçador. Em meio a um potreiro bordado de ovelhas – e de “lantejoulas” pretas – há um açude natural, onde húngaras, cabeçudas e prateadas fazem a alegria dos pescadores de araque. Porque pescador de verdade se embrenha no vale das Antas, se apruma na pedra mais alta e gasta um terço das férias fisgando lambaris, que servirão de aperitivo num jantar.

Pois estando o pescador de verdade em tarefa de reconhecimento do terreno para catar iscas, optou por um depósito de esterco, onde passou a cavar com tal concentração como se fosse explorar um filão de ouro. Depois de encher uma latinha de minhocas douradas, ele tapou o buraco e foi até o carro, onde já estocara o restante do material necessário para a pescaria. Mentalizou a lista e passou a conferir se tudo fora mesmo providenciado: salame… presente! cerveja… presente! repelente de mosquitos… presente! radinho a pilha… presente! Bom, só faltava ligar para os outros pescadores de verdade, que aguardavam em suas casas. Dormindo.

“Mas que droga, cadê meu celulóide?”, resmungou o pescador depois de apalpar o bolsinho da camisa pólo. Teve que abrir a mochila outra vez, o que, aliás, foi providencial, pois percebeu que ainda faltava o pão de sanduíche. Não localizando o ancestral do Smartphone, o cara retornou ao potreiro, pesquisando cada bolinha que se destacava. E eram centenas… Então gritou para a irmã.

-Liga pro meu celular!

Animou-se ao escutar o som abafado de uma valsa que parecia vir de um salão longínquo, lá da sua juventude. O pescador de verdade ligou as antenas. O danadinho estava por aí, mas onde? Encarou, desconfiado, as ovelhas próximas. Seguiu uma que caminhava de modo suspeito, como se guardasse alguma culpa… Desistiu ao perceber que a melodia se distanciava. Voltou ao local onde cavara, e o som ficou mais nítido. Alvoroçado, usou as mãos como pás para chegar ao fundo de cada buraco.., e havia uns cinco. De repente, no último – Ufa!!! – o celular, já mudo, mas ainda vivo…