Agricultores e especialistas avaliam que previsões ainda podem ser precipitadas e que brotação está excelente

Devagar, a uva começa a brotar e as perspectivas sobre a próxima safra passam a se tornar mais concretas. Na avaliação de especialistas, previsões ainda podem ser precipitadas, porque tudo depende do clima nos próximos dias, mas por outro lado a brotação já indica excelente qualidade.
Técnicos da Embrapa Uva e Vinho e da Emater avaliam que os próximos dias, até o início de novembro, serão cruciais para o desenvolvimento da videira, na medida em que há risco de desenvolvimento de doenças, sobretudo se houver muitas chuvas.
De acordo com o técnico da Emater, Thompsson Didoné, a brotação nas videiras está ótima, sobretudo nas principais uvas da região. Contudo, a produção está abaixo do normal nas uvas de mesa. “O ano passado foi uma safra boa com cobertura plástica, então neste ano a maioria tem uma produção um pouco aquém do que o normal”, avalia.
Na perspectiva de Didoné, no início de novembro a uva já vai ter florescido e é necessário que se tenha tempo seco e firme. “Em muitas ocasiões, temos visto que o tempo é de chuva”, comenta.

Frio garantiu boa brotação

Um dos grandes responsáveis para a uva brotar com qualidade é o frio. O analista da Embrapa Uva e Vinho, João Carlos Taffarel, aponta que ocorreu uma brotação 20 dias após o período normal em função do inverno rigoroso. “Nós tivemos muitos dias com temperaturas abaixo de 10 graus. Esse acúmulo fez com que a brotação atrasasse de 15 a 20 dias”, aponta.
Ele explica que ainda é muito recente para estimar o que acontecerá com a vindima, mas já se observa boa brotação nas diferentes regiões produtoras do Rio Grande do Sul, inclusive na Serra Gaúcha. “As varas e as gemas que são deixadas brotaram muito bem”, comenta.
Na sua análise, a preocupação maior será nos próximos 15 dias, quando ocorre o início da floração. Existe preocupação por parte dos técnicos e dos produtores com a ocorrência de chuvas constantes. “Nossos modelos climáticos dizem que vai ter ocorrência de chuva, então vamos ter que ter cuidado em relação às doenças nesse período. Até o início de novembro vamos precisar de muita precaução”, alerta.

Menos serviço, menos despesas

Euclides Ficagna, 83 anos, tradicional produtor de uva, conta que foi o primeiro a entregar para uma grande vinícola francesa que se instalou na região.”Isso foi há mais de 50 anos”, lembra.
Atualmente, ele cuida, junto com seu filho, de 45 hectares de chardonnay, riesling, tribiano amarelo e bordô. Segundo ele, seu foco é produzir qualidade. “É menos serviço e menos despesas”, comenta. A perspectiva dele com a safra é positiva. Ele acredita que algumas variedades vão ser parecidas com o ano passado, enquanto outras podem dar menos. “A safra de hoje em dia é melhor do que antigamente. Ainda vale a pena. Se abandonar a parreira, vamos plantar o que?”, questiona.

Sucessão familiar com resultado

A família do administrador Matheus Marosin, 31 anos, cultiva uva há pelo menos três gerações. Enquanto muitos jovens buscam oportunidades na cidade e largam a agricultura por todas as dificuldades que a atividade apresenta, Marosin não pretende seguir o mesmo caminho. “Muitos saíram da comunidade e foram embora, mas acho que ainda vale a pena ficar na colônia, é difícil conseguir trabalho”, relata.
Sobre a safra, ele espera um resultado próximo do que foi no ano passado, mas avalia que ainda é cedo para fazer qualquer previsão. “Na qualidade, ainda não temos noção do que pode acontecer”, afirma. A família cultiva uvas viníferas e para suco. “Nas viníferas, é qualidade. Já uva para suco é quantidade, cada uma tem suas vantagens”, compara.

Tarde de Campo: extensão rural na prática

Foto: Divulgação

 

As tardes de campo na viticultura buscam trazer conhecimento para os agricultores por meio de palestras sobre assuntos importantes no cultivo da uva. Os encontros fazem parte do projeto de valorização e resgate dos vinhos coloniais, ligado ao Programa Gestão Sustentável da Agricultura Familiar, da Emater/RS.
O último encontro aconteceu na Linha 6 da Leopoldina e abordou o controle da pérola da terra/brocas e cochonilhas e doenças da videira.
Outra atividade está programada para acontecer em Tuiuty, na terça-feira, dia 16. Em novembro, ocorre uma oficina sobre análise sensorial de vinhos, para avaliar a produção de vinhos coloniais de associados.

fotos: Lucas Araldi