Vereador Virissimo quer que objetos sejam substituídos por materiais biodegradáveis em bares e restaurantes de Bento Gonçalves

Um vídeo que mostra dois pesquisadores removendo um canudo plástico do nariz de uma tartaruga, de 2015, foi bastante divulgado recentemente. As imagens causaram comoção e o canudo se tornou o principal novo vilão do meio ambiente. Na esteira da preocupação com a natureza, prefeituras de diversos lugares do Brasil estão aprovando leis que proíbem a utilização em estabelecimentos comerciais, inclusive com aplicação de multas. Em Bento, o vereador Eduardo Virissimo (PP) propôs um Projeto de Lei Ordinária (PLO) que obriga esses lugares a utilizarem canudos fabricados com produtos biodegradáveis.
O PLO estabelece que desobedecer a norma acarretará em infração na primeira autuação e multa de 8 URMs na segunda abordagem. Se a irregularidade continuar a ocorrer, a multa pode ser de 16 URMs. Com o PLO aprovado, o plástico deverá ser substituído por “canudos de papel reciclável, material comestível, ou biodegradável, embalados individualmente em envelopes fechados” com o mesmo material.
Dessa maneira, o vereador acredita que o projeto vem para cumprir papel de conscientização sobre a necessidade de preservação e de gerar menos lixo. “Nós temos um amplo mapa turístico que é envolto pela natureza no nosso município. A preocupação é de cuidar do nosso ambiente em nível regional, dentro do turismo, no dia a dia. Ele vem para despertar uma demanda que está em discussão”, comenta.
A justificativa para o projeto leva em consideração que “a vida útil média de um canudinho é de apenas 4 minutos, mas ele fica no meio ambiente por centenas de anos”. Além disso, frisa que após o descarte, eles “costumam ter como destino o mar e acabam afetando diretamente a vida dos animais”.
Ainda segundo o texto, é necessário “conscientizar a população sobre a questão do uso único de canudos de plástico e seus efeitos prejudiciais em nossos aterros sanitários, vias navegáveis, oceanos, bem como animais marinhos e aves”. A intenção de Virissimo é apenas trazer o assunto para discussão e não aprovar o PLO imediatamente.

 

Bióloga indica cuidado com biodegradáveis

Embora o biodegradável seja menos nocivo do que o plástico comum, alguns produtos são rotulados de forma errônea. Segundo a bióloga Isadora Bisognin Cervo, é necessário ter atenção. “Alguns produtos rotulados como biodegradáveis na verdade contém polímeros de plástico comum ou similares”, alerta
De toda forma, ela acredita que qualquer iniciativa para reduzir a utilização do plástico comum é importante, a exemplo do PLO. “Os (verdadeiros) biodegradáveis são interessantes porque eles são derivados de matérias-primas de fontes renováveis, e são degradados por micro-organismos em um período de 180 dias”, afirma.
Com algumas dicas simples, Isadora indica como as pessoas podem reduzir a produção de resíduos tóxicos ao meio ambiente. “Podemos dispensar o uso do canudo para beber algo, trocarmos o copo plástico da água por copo ou caneca reutilizável no trabalho e utilizar sacolas de pano no mercado”, afirma. Ela avalia que se cada um adotar isso, pode haver uma redução significativa na geração de resíduo plástico.

 

“Canudo é só parte do problema”, afirma secretário-geral da Aaeco

Na perspectiva do secretário-geral da Associação Ativista Ecológica (Aaeco), Gilnei Rigotto, o PLO é apenas mais um projeto em um universo enorme e que a ajuda pode ser ínfima, mas significativa. “É válido porque a partir dele podem surgir outras ideias”, comenta. Rigotto vê que canudos plásticos são apenas parte do problema, na medida em que muitos objetos são utilizados no cotidiano. “Tem também tampinha da garrafa PET e centenas de pequenos plásticos iguais ou piores”, avalia.
Segundo ele, as tartarugas acabam comendo ou os objetos trancam as vias, o que de uma forma ou outra é prejudicial. “Teria que ter uma legislação federal para que o plástico comum fosse abolido e fosse substituído por plásticos biodegradáveis”, sugere. Mesmo assim, ele acredita que a discussão em nível municipal é importante. “A intenção do vereador provavelmente é boa, mas olhando com atenção é só uma pedrinha no deserto”, ressalta.
Na medida em que existem cadeias industriais com interesses próprios, Rigotto avalia que o problema também envolve custos. “Essa transformação para biodegradável tem preço, ao mesmo tempo em que é muito barato fazer o plástico que nós utilizamos”, afirma.

Referências da Europa

Rigotto cita como exemplo o caso europeu, onde há preocupação com a emissão de combustíveis fósseis e adoção de tecnologias relacionadas ao bioplástico. “Na Alemanha, tem um material orgânico que se desmancha na água quente. No momento em que tu coloca o plástico ali, ele vai se diluir”, avalia.
Ele também afirma que nesse caso, também envolve toda cadeia de transporte e descarte do lixo, que não seria mais necessária. “Não é só o problema do lixo em si, mas toda cadeia de transporte que polui”, frisa.