Eles têm rotina. E muitas coisas em comum. São preocupados com cada detalhe, aliás, o detalhe é o trabalho deles. Em todas as oficinas, o rádio tocava e os pontos de luz eram direcionados para onde a atenção estava. Na maioria das vezes tiveram que ser interrompidos e olharam com desdém. Porém, não hesitaram em falar com alegria sobre aquela que move a sua vida, sobre a profissão tão orgulhada.

Nem todas as profissões, hoje, são movidas e sobrevivem das tecnologias. É verdade que a globalização e os avanços tecnológicos tornaram a vida de muito profissionais mais fácil, contudo, eles não ficaram reféns de velocidade de rede, de complexas programações ou até mesmo da conexão com a internet. Eles dependem apenas da procura dos clientes, algumas ferramentas e eletricidade.

Quantos alfaiates se pode encontrar em Bento Gonçalves? E quantos relojoeiros, sapateiros ou chaveiros? Poucos. A resposta dificilmente passará de dois ou três. As profissiões que estão se extinguindo com o tempo, ainda arrumam um lugarzinho na cidade, seja no andar debaixo de casa, ou em uma oficina, para que seu trabalho detalhista seja feito com sossego e muita paciência.

Em comum, estes profissionais também têm a organização e, em cada pequeno espaço, as ferramentas são guardadas metodicamente: por tamanho, cores ou função. Para eles, a organização, ao contrário da tecnologia, facilita muito o trabalho. No atelier do seu João Baccega os tecidos em metro são organizados por cores e texturas, enquanto na sapataria de Ciro Tumelero, os pregos minúsculos são separados em caixinhas por tamanho.

O chaveiro Paulo Dupont diz que a tecnologia chegou até os chaveiros e hoje, chaves biométricas podem ser encontradas, mas a chave da porta de casa, aquela que todos usamos, ainda é moldada na máquina e entregue ao cliente, ainda quente, alguns minutos depois. O relojoeiro Airton Milesi diz que tem medo que a profissão acabe, que não conhece relojoeiros mais novos e que, ultimamente, de fato, só tem se trocado pilhas.

Apesar das diferenças das profissões e dos trajetos de vida que foram percorridos pelos profissionais, eles têm inúmeras semelhanças. E eles sobrevivem. E vivem. E trabalham na ânsia por alguém que os suceda para que a profissão não deixe de existir, quando eles já estiverem cansados demais.

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