Tentativas de suicídio, ideação suicida, automutilação. Esses são os principais motivos que têm elevado o número de crianças e adolescentes encaminhados ao Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) no primeiro semestre desse ano, em Bento Gonçalves.

A faixa etária dos pacientes é cada vez mais baixa e os números estão em constante crescimento. Todos os dias o CAPSi recebe novos pacientes, encaminhados pela Unidade Básica de Saúde (UBS) ou Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade. São casos graves e que precisam de um olhar especializado. “Estou aqui há oito anos e está me chamando atenção, porque está vindo bastante pacientes direto da UPA”, comenta a Coordenadora do CAPSi, Isabel Tasca.

Somente nesse ano, o local recebeu 17 encaminhamentos após tentativa de suicídio, entretanto, considerando a ideação suicida, que consiste na intenção sem a tentativa, o número sobe para 39. Pacientes conduzidos por automutilação foram 41. Embora a fase predominante esteja na adolescência, esses números também englobam casos entre crianças.

De acordo com a psiquiatra do CAPSi, Ana Haas, existe três situações: ideação, que configura o pensar em tirar a vida, o desejo de morrer, porém, sem a tentativa; planejamento, que indica gravidade maior por ter mais proximidade do ato ser concretizado, e a tentativa em si, quando é feito algo. “O método mais usado entre crianças e adolescentes é a ingestão medicamentosa dos adultos que eles têm acesso, autoasfixia, cortes”, relata a psiquiatra do CAPSi, Ana Haas.

As principais causas

A falta de empatia dentro da própria família está entre as motivações que levam crianças ou adolescentes a tentarem o suicídio ou a se auto agredirem. “Falta se colocar no lugar do filho e tentar olhar o mundo com os olhos dele, porque eles não enxergam, não percebem, não toleram o mundo como um adulto. A falta de empatia inicia dentro de casa”, observa a doutora Ana.

Escuto muitos pais me perguntando por que o filho se machuca. A resposta é porque aquela criança ou adolescente não desenvolveu recursos emocionais para lidar com o sofrimento de outra forma – Dra. Ana Haas

O CAPS Infantil

Há quatro meses o local criou uma modalidade de trabalho chamada de ‘intensivo’, uma alternativa diferenciada para que pacientes com quadros mais preocupantes, com chances de suicídio, não precisem de internação no hospital. “São crianças e adolescentes em risco, que dependendo da intensidade ficam o dia inteiro com a gente, almoçam, participam dos atendimentos, das oficinas que a gente oferece”, explica Ana.

De acordo com ela, grande parte dos jovens chegam ao CAPSi de forma tranquila, com consciência que precisam de ajuda profissional. “A maioria deles vem de boa vontade, mas o que é característica é que às vezes eles chegam muito desesperançosos, não acreditam que aquele sofrimento, aquela dor vai passar. E é aí que a gente começa a trabalhar, mostrando alternativas”, explica.

Durante a semana, os pacientes são atendidos em grupos ou de forma individual, depende da gravidade de cada caso. Para dar suporte e oferecer atendimento para os pacientes, o CAPSi conta com vários profissionais da área da saúde.  “A automutilação tem um grupo especifico porque tivemos aumento muito expressivo e tivemos que especializar o atendimento. Os casos de suicídios podem ir para grupos alternativos, mas muito frequentemente acabam indo para atendimento individual, porque o que motiva para tentar tirar a vida é muito pessoal, como abuso físico, emocional, sexual. São situações que não tem como colocar o adolescente em um grupo naquele momento”, afirma Ana.

O ‘intensivo’, além de ajudar essas crianças e adolescentes que estão sob grande risco, ajudou a reduzir a quantidade de internações. “Antes, o recurso era ir para a UPA, ficar lá aguardando leito. Agora, é avaliado lá, depois nos encaminham, porque o paciente precisa ficar sob vigilância, observação, porque está com risco de suicídio, ou de depressão grave. Então eles vêm para cá e ficam aqui com a gente”, conta a psiquiatra.