A notícia de que um idoso havia falecido não me causou estranheza. Afinal, esse é o destino de todos e, se respeitada a ordem natural das coisas, o critério adotado para a “chamada” é a cronologia.
Tudo muito bom, tudo muito bem se, logo abaixo, não viesse o complemento: o cidadão tinha 61 anos. Sessenta e um, e era “idoso”! Na flor da idade madura…
Vocês repararam que só cidadãos comuns “envelhecem”? São os que trabalham que nem formiguinha, carregando folhas com o dobro do seu tamanho nas costas, os que acotovelam sua “anonimidade” nos ônibus e trens, os que lutam pela sobrevivência…
Já ricos e famosos não passam pela dura provação do tempo, pois eles conquistaram outros adjetivos. Ou alguém chamaria o Papa Francisco de idoso? A Presidente Dilma de idosa? A atriz Nathalia Timberg, o empresário Abílio Diniz, o milionário Carlos Slim… de idosos? Alguém diria que o poeta e cantor Chico Buarque é idoso? E o pastor Edir Macedo é conhecido como idoso? O arquiteto Oscar Niemayer foi, em algum momento, denominado de idoso? Nem pensar!
E isso dá o que pensar…

Pré)conceitos

A servidora ouvia boquiaberta uma jovem, colega de ofício que desenvolvia suas atividades profissionais em outra unidade. Era de uma solidariedade e condescendência intrigantes.
-A gente tem que ajudar a pobre. O que é que tu vais esperar de uma velha? Reumatismo, escoliose, dor nas juntas… Eu tenho muita pena…
A pergunta óbvia foi “por que ela não se aposenta?”. Afinal uma idosa erguendo panelas, poderia se queimar, coisa e tal.
-Hiiiiiiiiiiii, vai longe ainda! Ela não tem idade pra isso.
-Como assim? – indagou a servidora, completamente “baratinada” – Quantos anos a “velha” tem, afinal?
-Cinquenta…
Mesmo sussurrada, a resposta foi um “tijolo” na cara da outra, que era uma funcionária gentil, bonita e sempre disposta. E com a mesma idade.

Camuflando

De tempos em tempos, palavras com conotação negativa são introduzidas, no cenário, com roupa nova. Algumas mudam de figurino a cada década, pois, com o uso, voltam a se impregnar de antigos preconceitos. Exemplo disso é “retardado”, que passou a “excepcional”, depois,”deficiente mental” e agora,”portador de deficiência”. Nessa mesma linha, está “idosa”, que pretende substituir “velha”, para não menosprezar os mortais comuns…(Lembram? Ricos e famosos não envelhecem).
Quanto a mim, só não quero morrer na véspera. E ficar velha é a condição.