Se você gosta, não é da minha conta. Se você usa, não é problema meu. Aliás, você não tem problema; eu é que tenho nesta questão de foro íntimo. Então, sem estresse.

Do que estou falando? Da lingerie do século XXI, que veio com tudo. Com tudo “incorporado”. Na verdade, não é bem essa a palavra, mas não gosto da outra, acho muito vulgar.

Na minha opinião – que não vai fazer diferença nenhuma – a mulher, aparentemente livre e solta para fazer e usar o que lhe der na telha, continua dependente de uma sociedade de consumo que dita implacavelmente padrões estéticos. Então, para sentir-se bem consigo mesma e/ou para tornar-se sensual, ela se submete a procedimentos e roupas que apertam, enxugam, levantam, aumentam ou diminuem as formas. E, não assim tão de repente, se deixa seduzir pelo desconfortável fio dental. O mais recente, que está bombando nas paradas, é composto de uma rendinha abaixo da cintura e um cordão de pérola que desliza glamourosamente pela fantasia…

Estou vendo seu sorriso maroto… Olha só: já fui mais jovem e de formas menos generosas, inclusive, naqueles anos nada dourados, o modelo feminino “asa delta” até que cumpriu seus objetivos. Hoje, obviamente, estou às voltas com a “gerontolescência”, que é a transição entre a vida adulta e a velhice, mas ainda sobra tempo para o diálogo semanal com você, leitor(a).

Tudo isso foram preliminares para justificar minhas escolhas, afinal ninguém é totalmente insensível aos comentários dos outros. E não gostaria de ser rotulada pejorativamente de “vovó”, embora o seja, com muito orgulho. Bom, agora é que vai começar a historinha…

Final de semana de um verão tórrido, reunião de família com gente saindo pelo ladrão. Subindo e descendo escadas carregada de bandejas, com o suor que brotava da raiz do cabelo e encharcava até a alma, minha preocupação eram os comes e bebes. Por isso deixei de lado o cesto de roupa lavada, que estenderia depois, quando todos tivessem “picado a mula”, até porque o sol prometia abrasar a tarde inteira.

Enquanto a turma se esbaldava na caipirinha, uma convidada especial resolveu me dar uma mão… usando as duas com habilidade ímpar.

Quando vi, o varal estava uma vitrine. As peças, separadas por cor e tamanho, formavam um degradê e esvoaçavam sem sustos, presas que foram de ponta a ponta. As pretas lembravam bandeiras piratas tremulando ao vento…

Foi aí que… “Mai Gad!”, sussurrei com meu inglês fajuto. A perfeccionista invadira minha privacidade e a deixara ao alcance dos olhos de quem quisesse ver. Ela havia prendido as lingeries anos sessenta de cabo a rabo, esticando, sem pudor, as peças flexíveis, quase duplicando a circunferência. Pode isso?

Fala sério, Marisa!