Quem vê as duas irmãs gêmeas de um ano e seis meses se divertindo calmamente com seus brinquedos, no chão e na mesa da cozinha da residência no bairro São Francisco, pode não imaginar o que a família passou recentemente. No entanto, uma segunda olhada mais próxima no rosto de uma das pequenas, indica que algo não está bem. As marcas ainda estão presentes, e os hematomas não sumiram completamente. Para a família, a cicatriz do trauma ainda vai demorar para fechar.

Recentemente, o pai e a mãe das duas crianças passaram por uma mudança drástica na vida. O caso envolvendo a filha repercutiu nas redes sociais e na imprensa, ganhando dimensões muito maiores do que o esperado. Na terça-feira, 30 de agosto, a Polícia Civil divulgou um caso de maus-tratos e lesão corporal por parte de uma babá, contra uma menina de um ano e seis meses.

Jornal Semanário: Quando começaram a desconfiar que tinha algo errado?

Pai: Na verdade a gente não tinha desconfiança até então. As câmeras estão instaladas faz tempo já. No começo, quando foram instaladas, a gente cuidou, deu uma olhada, procurava ver se tinha alguma coisa de errado, mas a gente nunca achou nada. E com o passar do tempo, acabamos criando uma confiança nessa babá, e acabamos deixando de lado de ficar conferindo todos os dias. A gente dava uma olhada de vez em quando, até mesmo porque não é uma câmera só, são várias horas de filmagem, e a gente acabou se acomodando na verdade. Mas, na semana passada, elas começaram a dar alguns sinais. Elas choravam quando a babá chegava, não queriam ir com ela. Teve outras épocas que elas faziam isso, mas com menor intensidade. Na semana passada foi bem mais forte. Só que, como nunca teve desconfiança de nada, não pensávamos que estava acontecendo isso. E, na sexta-feira (dia 26 de agosto), apareceram muitas marcas no rosto de uma das meninas. E aí a minha esposa ficou desconfiada, mas a babá disse que ela tinha caído. Fomos olhar as câmeras, e não tinha nenhuma queda. Depois, contra o sol, a minha esposa viu a marca de dedos no rosto dela. Aí ela se apavorou. Começamos a procurar outras imagens, até que achamos as da câmera da cozinha, e aí vimos a imagem dela espancando. Minha esposa entrou em desespero, e eu fui registrar o caso na delegacia. A gente só desconfiou mesmo quando apareceram as marcas.

JS: Há quanto tempo a babá prestava serviços?

Pai: Fazia um ano e dois meses. Até aceitamos pagar um valor a mais, pra ter uma pessoa especializada. Porque as meninas nasceram prematuras, e tiveram alguns problemas de saúde quando mais novas, sempre foi um pouco complicado. Então optamos por pegar alguém que tivesse experiência. E aí, nós conhecemos ela, e criamos confiança. Ela virou uma pessoa da casa, da família. Almoçava com a gente, tinha liberdade total dentro da residência.

Mãe: Como ela trabalhava de noite, a gente liberava ela para dormir. Ela trabalhava só de manhã. Então, quando os nenês dormiam, ela dormia também.

Pai: Ela vinha maltratando a criança desde terça-feira, mas sexta-feira foi a maior agressão.

JS: E as imagens mostraram todas essas agressões?

Pai: Sim, desde terça-feira.

JS: As câmeras já estavam instaladas?

Pai: Sim, faz tempo que estão instaladas. Antes mesmo de a babá começar. Na verdade, quando começamos a ter mais gente dentro de casa, eu quis instalar as câmeras. Por segurança, esperando que não acontecesse, mas pra ter alguma prova, caso algo ocorresse.

JS: Quando vocês viram as imagens em um primeiro momento, qual foi a reação de vocês, o que vocês sentiram?

Pai: A gente perdeu o chão. A minha esposa entrou em desespero, começou a chorar, desesperada. Não sabia o que fazer. Consegui acalmar ela um pouco, e acordei minha mãe, que mora aqui do lado, e a primeira coisa que veio na minha cabeça foi ir para a delegacia, pra tomar alguma atitude. Foi o que eu pensei na hora.

JS: Como vocês e as meninas estão se sentindo agora, já que ainda é muito recente tudo isso?

Pai: Está bem complicado. As meninas estão com algumas atitudes que não tinham antes. Estão se agredindo entre elas, se beliscando. Elas acordam no meio da noite, assustadas. Bem difícil. Elas nunca foram de ficar muito quietas, sempre foram bem agitadas. Agora, as vezes elas ficam sozinhas, e a gente não sabe muito bem o que está acontecendo. Já procuramos ajuda psicológica, vai ter que ser feito um acompanhamento com elas, porque elas estão tendo atitudes diferentes do que tinham antes. Elas não estão iguais a como estavam antes.

JS: Vocês ficaram surpresos com a repercussão do caso, tanto na imprensa quanto nas redes sociais? Como vocês lidaram e estão lidando com esse fato?

Pai: Na verdade ficamos assustados, porque não esperávamos uma repercussão tão grande. Meu intuito inicial era que nem aparecesse nada, só que a justiça tomasse a decisão correta. Pra nós foi complicado.

Mãe: A gente não gostaria de ter a nossa família exposta dessa forma.

Pai: Muitas pessoas associam as fotos, os vídeos. Então é complicado.

Mãe: É bom porque faz com que as pessoas fiquem alertas, atentas. Porque, às vezes, as pessoas estão tranquilas. Mas, se eu não tivesse desconfiado na sexta-feira, que as marcas que ela tinha, eram muito estranhas, talvez essa pessoa ainda estivesse trabalhando aqui, agredindo elas. E a gente nem sonhava com isso. Principalmente porque ela dizia que amava minhas filhas. Na terça-feira, ela agrediu o nenê e, logo depois, me mandou uma mensagem dizendo que amava as meninas.

Pai: Pelos horários das câmeras e das mensagens, foi possível constatar isso.

Mãe: Não tem explicação o que ela fez com as minhas filhas.

JS: E o que vocês esperam agora?

Mãe: Eu só quero que as meninas fiquem bem. Só isso. Que passe tudo, né?
Pai: E que não fique sequela para elas, né? A gente está muito preocupado com isso. Com o que vai acontecer com elas.
Mãe: Só isso que eu quero. Que elas fiquem bem. O que vai acontecer com a babá, sinceramente não interessa. Não quero nem saber.
Pai: Espero só que a justiça seja feita. A gente só quer que elas fiquem bem. Que não venham a ter sequelas, tanto pelas agressões quanto pelo que aconteceu.

JS: O que vocês podem dizer para alertar outros pais, para que não passem pela mesma situação que vocês?

Mãe: O que eu tenho pra dizer agora é que não dá pra confiar em ninguém. Tu tem que confiar desconfiando, sempre.

Pai: Não dá pra confiar 100% em uma pessoa.

Mãe: Tem que estar sempre alerta, principalmente ao comportamento das crianças. Às vezes a gente acha que são fases, mas às vezes…

Pai: Elas querem te dizer alguma coisa.

Mãe: Hoje, eu vejo que na semana passada as minhas filhas estavam pedindo socorro, e eu não percebi. Sorte que a gente acabou percebendo na sexta-feira. Mas, se ela não tivesse deixado alguma marca, a gente não ia perceber.

Pai: A gente não sabe se isso vinha acontecendo há mais tempo.

Mãe: Pra ser bem sincera, a gente acabou nem vasculhando todas as câmeras. A gente não quer mais ver nada. Quando eu vi ela batendo na minha filha a primeira vez, eu já saí correndo. As crianças dão todos os sinais pra gente. As vezes a gente acaba não dando muita atenção, mas tem que ficar atento. Porque a gente nunca sabe com quem a gente está lidando. Depois disso, eu tenho certeza absoluta disso.

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