A história original (grega) conta que Narciso, um belo rapaz todos os dias ia contemplar seu rosto num lago. Era tão fascinado por si mesmo que, certa manhã, quando procurava admirar-se mais de perto, caiu na água e terminou morrendo afogado.
No lugar onde caiu, nasceu uma flor, que passaram a chamar de Narciso.
O escritor Oscar Wilde termina esta história de uma forma diferente. Ele diz que, quando Narciso morreu, vieram as Oréiades – deusas do bosque – e viram que a água doce do lago havia se transformado em lágrimas salgadas.
“Por que você chora?”, perguntaram as Oréiades.
“Choro por Narciso”.
“Ah, não nos espanta que você chore por Narciso”, continuaram elas. “Afinal de contas, todas nós sempre corremos atrás dele pelo bosque, você era o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza”.
“Mas Narciso era belo?”, quis saber o lago.
“Quem melhor do que você poderia saber?”, responderam, surpresas, as Oréiades. “Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias”.
O lago ficou algum tempo quieto. Por fim, disse: “eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que era belo. Choro por ele porque, todas as vezes que ele se deitava sobre minhas margens, eu podia ver, no fundo dos seus olhos, a minha própria beleza refletida”.

 

Para uma mentalidade saudável, aprendemos que devemos nos amar e nos aceitar. Assim, todos somos meio narcísicos, mas, quando os traços são exagerados, torna-se uma doença.
Autoconfiança é uma máscara para disfarçar a falta da mesma e uma tentativa de compensar os sentimentos de inferioridade. Exibir nossa beleza e inteligência é, de fato, um manifesto narcísico. Porém, se a pessoa tem a capacidade de olhar para si mesma e ser autocrítica, essas manifestações são moderadas e não causam grandes consequências para ela nem para os outros.
No caso do narcísico, pode ser um esquema de autoproteção para blindar-se de julgamentos alheios e, não menos importante, o próprio. Fingem não se importar, mas não confiam em si mesmos. Têm medo de falhar. Quando alguma coisa não corre bem, a culpa é dos outros. Quando corre bem: [Fui] ‘eu, eu eu.’
Você pode não reconhecer um narcísico em um primeiro momento, talvez nem no segundo. Na verdade são pessoas de autoestima muito baixa, mas ao invés de desenvolverem uma imagem negativa de si, fazem ao contrário. Esforçam-se para transmitir ao outro uma visão inflacionada de si. Existem diversas maneiras de demonstrar isso, ou seja, nem sempre você verá Narciso admirando-se às margens do rio.
Acreditam que são melhores que os demais e fazem com que a atenção recaia sobre eles de forma exagerada. Nem sempre rebaixam os outros para se sobressair, muitas vezes, fingem NEM exergar os outros – criando uma epidemia de solidão. Ou por acaso viver recusando convites para socializar é prova de amor próprio?