Leonardo Boff, teólogo, escritor, filósofo, revolucionário, etc. etc…, um cara que mexeu com as estruturas arcaicas da Igreja, contou uma excelente história que vem a calhar com o momento. É sobre a Águia e a Galinha, explicada por ele como “uma metáfora da condição humana”. Vou resumir:

Um camponês capturou um filhote de águia na floresta e colocou-o no galinheiro junto às galinhas. Assim, a pequena águia aprendeu a comer ração e a ciscar feito galinha. Depois de cinco anos, o camponês recebeu a visita de um naturalista, que ficou incomodado com a situação vexatória da ave. Dizendo que ela, apesar de tudo, era uma águia e sempre seria uma águia, pois o seu coração era de águia, desafiou o camponês – que não concordava com isso – em tirar a prova. A águia foi libertada para o teste. Erguendo-a para o alto, o naturalista ordenou que ela voasse. Olhando distraidamente ao redor e vendo as companheiras ciscando lá embaixo, a água pulou para junto delas. No dia seguinte, a experiência foi repetida, novamente em vão. Houve uma terceira vez, quando os dois homens levaram a á águia para fora da cidade, no alto de uma montanha dourada pelo sol nascente. Ela olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida, mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se de luz e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas potentes asas e ergueu-se, soberana, voando cada vez mais para o alto, até confundir-se com o azul do céu.

O autor explicou a metáfora dizendo que nós também fomos criados como galinhas, e que muitos ainda pensam que continuamos a ser galinhas. E finaliza com um apelo para que abramos as asas e voemos como águias, sem jamais nos contentarmos com os grãos que nos jogam aos pés para ciscar.

Pois não é isso que está ocorrendo agora? Descobrimos que temos asas e que podemos ganhar as alturas para exigirmos nossos direitos e lutarmos contra a corrupção. Grande vitória! Mas, assim como a águia voou pela primeira vez sobre o seu próprio corpo, também nós precisamos encarar nosso meio antes de partirmos para as instâncias mais altas. Porque há sanguessugas em toda parte. Elas proliferam em qualquer esfera pública, através dos apadrinhamentos e da distribuição de cargos, do nepotismo, dos interesses pessoais e partidários, das fraudes, das negociatas, dos desvios milionários, da pouca vergonha… Ufa! É tanto dinheiro do povo que escoa por baixo da ponte… até daquela logo aí – uma estrutura de ferro e aço inacessível, camuflada no meio do mato, apoiada numa via cujo asfalto, sem base sólida, vai cedendo ao bel prazer…

Concordo! Não sabemos da missa a metade! Atrás dos bastidores, a corrupção corre solta. Então, por que não começarmos por aqui mesmo? Transparência já é uma boa pedida!