Viajar pela imensidão do país, onde podem ser apreciadas as belezas naturais que o Brasil oferece, contrasta, muitas vezes, com a precariedade das estradas, a insegurança dos constantes casos de violência e saber lidar com a saudade de casa. Ingredientes que se misturam a esses, homens e mulheres que carregam o progresso pelas estradas.

Em cada viagem, uma nova história que revela, através dos milhares de quilômetros rodados, os verdadeiros heróis do cotidiano, que conhecemos por motoristas. Para muitos desses profissionais, faltam melhores condições de trabalho, respeito e infraestrutura.

Você acompanha alguns relatos dos que ainda acreditam que o o futuro do país passa pelas estradas.

“A paixão pela estrada é maior que as dificuldades enfrentadas no dia a dia, como o preço do diesel e o frete baixo, além das estradas ruins. Quando comecei na profissão, era tudo muito difícil. Os caminhões não tinham o conforto de hoje, as estradas sem asfalto, não havia comunicação com a família. No meu caso, tenho a maioria das vezes a companhia do filho que também é caminhoneiro e, sempre que possível, viajamos juntos. A saudade das netas me judia muito. Tenho muito orgulho de fazer parte desta classe, que é muito importante para economia e o desenvolvimento do nosso país, porque metade das mercadorias que circulam são feitas com transporte rodoviário”. Jorge José Botassoli, 65 anos, 44 de motorista de caminhão.

 “O amor do meu pai pelos caminhões me fez seguir o mesmo caminho, mesmo sabendo que o profissional não tem horário fixo de trabalho, nem o conforto de uma residência, pois dorme e se alimenta sempre em locais diferentes, muitas vezes, sem a segurança necessária para que possa ter uma qualidade de vida digna. Seguimos contribuindo com a economia e o desenvolvimento do nosso país. Sempre temos saudades de casa, das datas importantes que passamos longe das pessoas que amamos, da família que não curtimos em tempo integral. Os colegas de estrada é que se tornam nossa família”. Ismael Botassoli, 28 anos, 5 de motorista de caminhão.

“Desde 2012, em que a lei de descanso dos motoristas está em vigor, muito se falou em áreas específicas que seriam criadas pelo Governo Federal para atender a demanda de parada. Foram realizados cadastramentos dos postos de combustíveis de rodovia para serem pontos de descanso, porém, nada mudou: os motoristas continuam buscando os pátios desses locais onde abastecem para fazer sua higiene pessoal, alimentação, seja ela nas chamadas “cozinhas dos caminhões” ou em restaurantes existentes, sendo assim, se agrupando coletivamente também em forma de buscar segurança, inexistente na atualidade. Profissionais de extrema importância para a economia do país, nem sempre vistos assim, deixam para trás a vida em família. Não conseguem acompanhar o crescimento dos filhos, o primeiro aniversário, os primeiros passos, trabalhando por longas jornadas. Esta é a realidade do caminhoneiro autônomo, que nas últimas décadas vem sofrendo para conseguir manter-se na atividade, pois com o aumento dos custos de manutenção, combustíveis e alimentação o frete ficou muito abaixo do necessário para cobrir as despesas. Como filho e irmão de caminhoneiro tenho orgulho desta profissão, muitas vezes exaustiva”. Alan Botassoli, 39 anos, supervisor de Posto de Combustível.

“Sempre gostei de caminhão e aos poucos fui me interessando pela profissão. Gosto da liberdade que a função me oferece, a diversidade de lugares que conhecemos e as amizades conquistadas. Sinto que ainda há falta de respeito, melhores salários e reconhecimento da sociedade. Muitas vezes somos desvalorizados e taxados como drogados, inclusive por clientes. Trabalho com muito amor pela profissão, mesmo sabendo que corro o risco de não voltar para casa”. Jaison Lucyan Xavier, 27, 5 na profissão.

 “Ser motorista é um dom. Era um sonho que eu tinha e decidi correr atrás para realizar. Valorizamos muito as amizades conquistadas e as parcerias entre os colegas de profissão. No entanto, sinto falta de uma união, quando falamos na busca por melhores salários e condições de trabalho. Muitas vezes, a classe não anda junto neste sentido. Quero trabalhar como motorista até que Deus permitir”. Vilson Marcelo Girardi, 36, 15 anos na profissão.

“Larguei o emprego num escritório e a faculdade para seguir na profissão de motorista. Hoje, esse emprego me proporciona um salário melhor do que eu tinha, sou livre e tenho muitas amizades. A pior parte é a questão da segurança, estradas precárias, empresas sem estrutura, sem falar no preconceito por ser mulher. Mas aos poucos a gente tira de letra esses percalços e conquistamos o nosso espaço”. Gabriela Baldasso, 34, 12 anos na profissão.