Não há como não se falar em política. Resisti o quanto pude, mas acabei cedendo ao desejo de pintar um quadro do atual momento. Surreal, pelas imagens bizarras. Portanto, tintas na paleta e mãos à obra.

Com o pincel fino, esboço a anatomia cerebral da política brasileira: são dois grandes hemisférios separados por uma fissura. Os ventrículos direito e esquerdo se comunicam com um terceiro ventrículo. E cada qual tem calos e cornos.

Agora desenho o Jardim das Delícias Terrenas, onde reinará a felicidade geral da Nação, garantida por todos os candidatos das várias esferas. Os que forem eleitos promoverão milagres na área da saúde, educação, transporte, segurança e moradia. Pinto mais um floreio e, de quebra, reforço com o pincel grosso a promessa de varredura nos preconceitos e na corrupção.

Meu quadro pede mais. Destaco a melhor plataforma, segundo o ponto de vista masculino. É da candidata a Deputada Federal de São Paulo, a Mulher Pêra, que até recebeu proposta do ator pornô Kid Bengala, para coligação. Capricho no traço… Mais umas pinceladas generosas nas formas arredondadas, que escorrem pela tela daqui, tipo Salvador Dalí.

Salpico de humor tipicamente tiririqueiro, porque este faz a cabeça de muitos eleitores desesperançados, que se vingam com gargalhadas e votos acéfalos.

Pincelo as nuanças da genialidade de muitos pretendentes a cargos, com seus codinomes em tinta dourada. Os que mais colorem este quadro são: Bochudo, Zé Macedo Acorda Cedo, Filho do Padre, Fala Paletó , William Big Coke, Peito de Pombo,Toninho da Farmácia,Trynity, Chefinho, Brasinha, Sid do Gás, Carlos Chagas Cachorrão, Divininha, Alexandre Show de Bola, Pintado, Fia Cabeleireira… Ufa! Preciso de ar puro…

Tem mais: Homem da Jumenta Teimosa, Hilário Mr. Been, Sílvio Santos Taxista, Vovô do Funk, Mulher de Branco, Batman Capixaba, Homem da Moto, Mulher Bambu, Tio do Doce, Tio dos Churros, O Galo Cego, Pinto Louco…

Quadro pronto? Que nada! Num paraíso que se preza, muitos outros matizes dão o tom. Entre a inflação controlada e a geração de empregos, traço o PIB em forma de obelisco, já que símbolos fálicos têm mais poder de sedução.

Acabaram-se as tintas, não os temas. Mas já é tempo de parar. O resultado é esta insólita composição de raças, cores, credos e amores convivendo em harmonia. Este é o Brasil prometido. Que graça! De tão entusiasmada, me ponho a cantarolar:

“Moro/ num país tropical/
Abençoado por Deus/
E bonito por natureza/
Mas que beleza/
Em fevereiro (em fevereiro)/
Tem carnaval (tem carnaval)…”