Definitivamente precisamos olhar a questão do Serviço  de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) com isenção e percebendo de que forma nossa cidade pode ser beneficiada ou prejudicada com as questões que envolvem a saúde da comunidade. Talvez a maneira como a prefeitura colocou à população as alterações que pretendia fazer assustaram a todos.

A falha de comunicação gerou uma preocupação desgastante, tanto para os funcionários e usuários do Samu, como para a Secretaria Municipal de Saúde e, até mesmo, para o prefeito Guilherme Pasin. Todos têm ciência da importância e da utilidade de uma unidade avançada para Bento Gonçalves. Uma ambulância com UTI Móvel e um médico treinado para realizar os atendimentos nos casos de urgência podem significar a salvação de um paciente. Afinal, este é um serviço diferenciado que não pode ser cancelado pelo simples motivo de uma redução de gastos. Até porque o dinheiro destinado à saúde é um investimento e não um gasto.

Partindo deste princípio, é preciso fazer um questionamento lógico: por qual motivo os governos estadual e federal não cumprem o que diz a Portaria 1.010 do Ministério da Saúde? Lá está definido a forma de participação de cada governo para o custeio mensal das despesas com o Samu. A legislação diz que 50% dos custos são da União, enquanto o restante é dividido em duas partes de 25% entre estado e município. Só que, desde que foi publicada, em 21 de maio de 2012, a portaria jamais foi cumprida. O investimento de R$ 159 mil mensais feito na unidade avançada do Samu, hoje conta com R$ 99,2 mil sob responsabilidade da prefeitura.

O valor seria considerado irrisório frente ao poder econômico do município, não fosse a atual crise financeira vivida pelo poder público. Porém, caso a legislação fosse realmente cumprida, seriam economizados R$ 60 mil em recursos da Secretaria Municipal da Saúde, tornando o projeto alternativo da prefeitura desnecessário.
Neste momento delicado, onde o dinheiro público e a saúde da população estão sob questionamento, é preciso equilíbrio nas ações, a fim de evitar um caos. Temos todos que lutar pela permanência da unidade avançada do Samu, com certeza. Porém, é preciso chamar as lideranças políticas e empresariais da cidade para cobrar e exigir dos governos federal e estadual que cumpram a sua parte nas questões referentes à saude da comunidade bento-gonçalvense.

Aos poucos, a situação será normalizada e o trabalho da unidade avançada continuado. Além de recursos financeiros, é preciso lutar pela aplicação da regulação inversa, onde uma central localizada em Bento Gonçalves define os atendimentos e aumenta consideravelmente o tempo de ação das ambulâncias. Em Caxias, Pelotas e Canoas o serviço funciona desta forma e tem retornos positivos. A mobilização não deve ser contra o fechamento do Samu, porque ele não será desativado. Mas sim pela melhoria na qualidade de um serviço que tornou-se essencial  na ação de salvar vidas.