De acordo com dados da Prefeitura, em três anos foram abertos 31 estabelecimentos do segmento no município

Os pet shops estão tendo um crescimento exponencial em Bento Gonçalves nos últimos anos. Dados da Secretaria do Desenvolvimento Econômico demonstram que 31 estabelecimentos relacionados ao segmento foram abertos desde 2015, o que envolve lojas especializadas em vendas de ração, até banho e tosa. Para entender esse cenário, o Semanário conversou com empresários do setor e especialistas em comportamento.
Os números demonstram ainda que o segmento passou a ter destaque, entre as pessoas que optam por abrir um novo negócio, somente a partir de 2011. Antes disso havia a abertura de, no máximo, 3 lojas por ano. Em 2015 e 2016, foram abertas 10 novas lojas, enquanto até outubro de 2017, 11 novos estabelecimentos do setor foram inaugurados no município.
Embora haja muitos novos pet shops, os empresários entendem que há espaço para todo mundo no mercado e apostam em diferenciais, como o cuidado especial com os animais e a localização diferenciada, além da credibilidade dos veterinários. Ademais, uma possível explicação para o crescimento do setor pode estar relacionada a fatores psicológicos e com a mudança da posição hierárquica dos animais de estimação na sociedade.

“O sentimento é de pai para filho”

De acordo com o proprietário da Bino Pet Shop, no bairro Santa Marta, Douglas Lucietto, o setor teve um crescimento significativo nos últimos anos. Sobre seu negócio, ele observa que o sentimento dos donos com relação aos animais de estimação é o mesmo do que de um pai para um filho. “Amor carinho, compreensão e dedicação. Assim como se lida como uma criança, nós lidamos com um animal”, comenta.
A Bino Pet Shop foi fundada há pouco mais de um ano e o foco de Lucietto é atender a demanda do bairro Santa Marta. “Por causa da locomoção, da facilidade de estar dentro do próprio bairro”, observa. Ele enfatiza que a busca pelos serviços tem sido grande.
Localizada na região central de Bento Gonçalves, a Taffarel Agropet foi fundada em 2013. O proprietário, Leandro Taffarel, comemora os resultados que vem obtendo desde então. “Tenho loja de acessórios e rações, e tem também a questão da estética. O cliente consegue achar tudo que necessita de um ponto só”, comenta.
Ele atribui o crescimento do setor à falta de tempo das pessoas e ao amor pelos animais. “No Sebrae também recomendam muito os pet shops”, observa.
De acordo com Taffarel, pelo menos oito lojas abriram depois da fundação da Taffarel Agropet. “As pessoas tem R$ 30 mil para investir e abrem um pet, mas tem bastante despesa, tem que pagar conselho veterinário, precisa de um representante registrado para dar assistência, etc”, pontua. O empresário ressalta que o custo para manter o espaço acaba se tornando alto.
Apesar disso, ele aponta que de setembro a dezembro a única forma de fazer banho e tosa na sua loja é com horário agendado. “O movimento aumenta muito”, aponta.
Além disso, na opinião de Taffarel, as pessoas deixam de ter um filho para ter um cachorro. “Ele vai se adaptar muito mais do que um filho, o filho é um custo maior. Um cachorrinho dá uma despesa de R$ 150 por mês, em média. Isso contando uma tosa higiênica, se a qualidade for inferior, o preço também cai”, analisa.


 

Amor pelos pets

De acordo com a psicóloga Franciele Sassi, o amor precisa ser pensado como fruto da construção e manutenção dos vínculos que temos com alguém ou com algo que desejamos preservar. “Os animais de estimação têm ocupado espaço importante no que se refere à rede de relacionamentos das pessoas, pois fazem parte de toda uma construção de planos, escolhas e expectativas, simbolizando possibilidades de cuidar e amar para além do tradicional”, ressalta.
Ela coloca ainda que a relação entre animais de estimação e seres humanos pode ser uma ferramenta importante diante de situações traumáticas ou perdas. “Os bichinhos podem auxiliar nesse processo de forma satisfatória, quando representam um vínculo seguro” comenta. Segundo Franciele, esses relacionamentos tratam sobre a necessidade de cuidado, construção e avaliação de crenças e valores.
Sobre a opção cada vez mais comum de ter um bichinho e não um filho, a psicóloga explica que o fenômeno é consequência de uma sociedade violenta, que expõe as pessoas a diversas vulnerabilidades. ”Os animais de estimação acabam se tornando opções facilitadas, tanto em função dos excessos praticados quanto das faltas cometidas pelas pessoas”, analisa. Franciele afirma ainda que os animais podem ser um porto seguro para as pessoas. “Os donos não precisam estar continuamente em contato físico e emocional para que o vínculo seja reassegurado”, avalia.

 

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