Passei dois dias ouvindo discursos de duas Casas Legislativas: de um lado, os defensores dos indefensáveis; de outro, os pregadores da moral, ética e dos bons costumes. Acho que houve um pouquinho de verdade em ambos os lados e muito de mentira por todo lado.

Mas era tanta a eloquência que fiquei esperançosa. De repente, os corruptos cairiam que nem fruta madura. No fim, a sujeira foi varrida pra debaixo do tapete, e a otária aqui, perdendo tempo. Se bem que não foi uma perda total e absoluta. Aprendi sobre retórica e consegui ler alguns traços do DNA dos políticos através de sua postura. Por exemplo: Ao fazerem uso da palavra, transpareciam duas atitudes distintas. Quem partia direto ao âmago da questão votava contra os denunciados; quem usava preliminares totalmente desnecessárias e cansativas era a favor dos “perseguidos”.

O momento quase hilário foi quando dois representantes de alas diferentes entraram em cadeira de rodas. O primeiro foi o deputado que, mesmo sem condições físicas, saiu do hospital para reforçar a blindagem do amigo “vítima de conspiração”. O outro, foi o Caiado, que tinha caído de uma mula, mas que, nem por isso deixaria de votar.

E teve o momento bizarro, com a criação da nova moeda brasileira. Mas antes de revelar, gostaria de fazer um retrospecto.

No Brasil, as primeiras moedas datam de 1500, com os nomes de acordo com a origem dos colonizadores: tostão, português, cruzado, vintém e são-vicente, passando a ser cunhadas aqui, a partir de 1695.
Em 1727, surgem as primeiras moedas brasileiras, com a figura do governante de um lado e as armas do reino do outro, originando a expressão “cara” e “coroa”.

No governo de Getúlio Vargas, começam as mudanças dos nomes e as desvalorizações. Mil réis passam a valer 1 cruzeiro.

Em 1967, o cruzeiro novo substitui o cruzeiro, que levou outra facada nos três zeros.
Em 1970, o novo sai e fica só o cruzeiro.

O cruzado veio de José Ribamar, em 1986, quando a inflação estava nos ares. Mil cruzeiros passam a valer 1 cruzado.

A inflação não para, chega às nuvens, e o cruzado leva mais uma punhalada, virando cruzado novo – com menos três zeros.

Depois o aclamado caçador de Marajás caça as poupanças do povo e retrocede: a moeda volta a se chamar cruzeiro.

O presidente do topete, seguindo o padrão de desvalorização, também corta três zeros e o nome passa a ser cruzeiro real.

Ninguém segura a inflação. Em 1994, ela atinge a camada de ozônio, quando 2.750 cruzeiros reais passam a valer 1 real.

E cá estamos nós, em 2017, mantendo com o nosso real a realeza política. Mas, ontem, (agora a revelação), oficializou-se um tipo de moeda compatível com o nível da maioria dos políticos: o jeddel – um jeddel vale 51 milhões de reais. A nova cédula trará a cara rechonchuda do deputado num lado, e malas de dinheiro no outro. Que tal?