O Instituto de Defesa Agropecuária de Bento Gonçalves está realizando, desde o início da vindima, coletas aleatórias entre os produtores de uva do município. As amostras são levadas até o Laboratório de Referência Enológica (Laren), em Caxias do Sul. Com elas, é produzida uma quantidade mínima de vinho que mais tarde será comparado ao produto coletado nos varejos da região. A intenção é testar se as vinícolas estão adicionando irregularmente água à produção.
De acordo com o fiscal estadual agropecuário, Juliano Luiz Schneider, que realiza as coletas, serão 270 amostras recolhidas em todo Rio Grande do Sul. Destas, 48 virão das produções de Bento Gonçalves, Pinto Bandeira e Monte Belo do Sul.
O controle é feito desde 2004, mas o banco de dados precisa ser renovado todos os anos em função das variações do clima, que interferem na produção. Schneider afirma que tanto produtores quanto vinícolas já estão acostumados com as coletas e entendem a importância delas. “Quando falamos aos produtores que é para verificar se existe acréscimo de água no vinho, eles abrem as portas e pedem para recolhermos o quanto quisermos. Eles compreendem que a qualidade do produto que sai das videiras deles impacta na credibilidade de toda Serra frente aos clientes”, descreve.
Apesar das vinícolas já estarem acostumadas com o rigor na fiscalização, o fiscal afirma que não é raro encontrar adição de água em vinhos da região durante os testes. “Ocorre principalmente nas variedades mais comuns e em cantinas menores. Mas existem casos de testes positivos em vinícolas de grande porte também”, lembra.
Ao flagrar alguma irregularidade, a Inspetoria Estadual Agropecuária lavra um auto de infração que pode variar entre uma simples notificação até multas pesadas. “É direito do consumidor. Não podemos comprar água se estamos pagando por vinho”, finaliza Schneider.
De 5% a 10% fora do padrão
Atualmente, o Laren promove uma série de testes que verificam a qualidade final do vinho produzido. Entre eles, ocorrem exames de grau alcoólico, açúcares totais, sulfatos, corantes e isótopos estáveis de carbono, este último para verificar se houve adição de açúcar ao vinho. Ao todo, de acordo com o laboratório, a média histórica aponta que de 5% a 10% das amostras apresentam algum tipo de adulteração.
Para a próxima safra o laboratório deve lançar, ainda, o teste de gás carbônico. A intenção é atestar se os espumantes receberam adição do fluido durante o processo de fabricação. “É injusto com o produtor que trabalha a uva do jeito correto, respeitando o tempo da fermentação. É um produto diferente daquele que pega qualquer uva, adiciona gás carbônico e coloca à venda”, avalia Juliana Renk, fiscal estadual agropecuária.
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