Quando em 2010, um dos maiores terremotos do século atingiu o Haiti, devastando o continente, a então presidente da República, Dilma Rousseff, abriu as fronteiras do Brasil para a entrada de milhares de refugiados no país. A promessa era de uma chance de recomeçar, de prover melhores condições de vida para pessoas já fragilizadas, que mal haviam se recomposto após enterrar as vítimas da catástrofe. Entretanto, o sonho de uma vida mais digna não vingou. Seis anos após a chegada dos primeiros imigrantes, o cenário próspero de outrora tornou-se para muitos, um calvário de difícil suplantação. Como reflexo do atual período frágil que a economia nacional atravessa, o número de empregos formais registra queda consecutiva desde meados de 2015. Como consequência, empresas elevaram seus requisitos para preenchimento de vagas, fazendo com que milhares de imigrantes ficassem a margem de uma economia estagnada, sem a mínima perspectiva de melhora. Entretanto, não se deixe enganar. Sim, a falta de emprego é um entrave à permanência de imigrantes, porém, os problemas começaram muito antes da crise. Desde o principio haitianos são alvo de preconceito, intolerância, humilhações, falcatruas trabalhistas, descaso e abandono. Nós falhamos. A quem deveríamos estender a mão, demos as costas.

Os tratamos como marginais, deixando a cor da pele e a diversidade cultural se tornarem um pré-julgamento de caráter. Nós falhamos por não acolher um povo trabalhador e garrido, que procurou ajuda em momento de necessidade, e como consequência de nossa negligência, muitos estão optando por deixar o país. E quem não optaria pelo mesmo? Aos que permanecerão, lembrem-se sempre do que dizia Voltaire, “os preconceitos são a razão dos imbecis”, para que a cada dia menos a hostilidade os afete. Aos que partem, não olhem para trás. O Brasil não estava, não está e provavelmente nunca estará pronto para proporcionar o que vocês merecem.