Ao que tudo indica, parte da responsabilidade pela força destrutiva dos furacões é nossa, já que provocamos o aquecimento global, e este maximiza o fenômeno.

Ironicamente, o país mais atingido por esse tipo de tormenta é o que menos se preocupa com a ação humana. Parece mesmo que Donald Trump guarda semelhanças com seu conterrâneo, o Pato Donald, ambos personagens bizarros.

A temporada de furacões deste ano foi aberta, em agosto, pelo Harvey, que provocou a maior inundação da história no Texas. Irma não demorou para dar as caras. Primeiro, marcou presença no Caribe, deixando tudo de ponta-cabeça. Aplacada um pouco sua ira devastadora, continuou a rota já mais branda, mas mesmo assim causando enchentes recordes na Flórida. Então chegou José, por enquanto um furacãozinho de nada que anda assoprando nas Bermudas a 110 km por hora, mas capaz de ganhar força neste final de semana. É o perigo que ronda o macrocosmo, em frente ao qual nos tornamos tão ínfimos.

Refletia sobre isso quando o microcosmo chamou minha atenção. Uma minúscula habitante de minha garagem lutava no olho do furacão Brás.

O destino da pequenina estava traçado. Presa nos 120 cm de diâmetro do ciclone, ela não tinha como escapar. A tromba d’água em forma de funil inundava a região.

Felizmente para ela, eu apareci. E me compadeci. Afinal, não poderia esquecer que seu aspecto serviu de inspiração para o desenvolvimento de algumas tecnologias. Graças às estruturas microscópicas existentes nas suas patas, que se fixam às paredes, foram inventados adesivos e criados curativos para serem usados em cirurgias ou ferimentos internos. Sem contar que ela também é predadora de aranhas, cupins, baratas, moscas, mosquitos e afins.

Resolvi ajudá-la, cancelando a tormenta. Não foi suficiente. A pobrezinha engolira muita água e precisava ser removida, mas era evidente que não confiava em mim. Quase se afogou fugindo de minha mão. Então, detentora do poder de vida e morte da lagartixa, coloquei um cano dentro do furacão Brás e aguardei. Nada de ela escalar sua liberdade.

Novo plano: pus cuidadosamente um retalho de plástico na máquina, formando uma ilha. Me afastei para dar tempo e coragem ao crocodilinho de parede de se movimentar para terra firme.

Um pouco depois, fui conferir. Lá estava o réptil estirado na parte seca do plástico. Enfiei minha mão dentro da Brastemp, para retirar a ilha antes que a maré subisse, e a depositei no solo.

A lagartixa ficou a manhã toda se recuperando. Sumiu perto do meio-dia, possivelmente à procura de casa e comida.

Acho que ela aprendeu a lição: no olho do furacão Brás (Brastemp), nunca mais!
Infelizmente, não há escolha para os povos que se encontram na rota dos furacões.