Com o desafio de combater o tráfico de drogas e o número de mortes violentas, o tenente-coronel Paulo César de Carvalho, 52 anos, assume o comando do 3º Batalhão de Áreas Turísticas (3ºBPAT). O motivo de ter vindo para cá é especial. Ele fez o pedido por sua família ter se estabelecido em Bento ao descer de um navio italiano que chegou no Brasil em 1882.

Mas a história de Carvalho começou efetivamente em Passo Fundo, onde nasceu e teve toda sua atuação dentro da Brigada Militar. Há 32 anos na corporação, ele já foi comandante do 3º Regimento de Polícia Montada (3º RPMon) e chefe do Estado-maior do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO) Planalto. Em função de ter recebido uma promoção, pode realizar o pedido para vir a Bento Gonçalves.

No entanto, para o tenente-coronel, o policiamento em uma área turística é novidade, mas o desafio não o faz perder o otimismo. “Quando cheguei, encontrei o Batalhão muito bem. Os índices criminais estão todos controlados, alguns com 80% de diminuição. Estamos com um problema pontual que são os homicídios”, analisa.

Apesar de Bento figurar como a cidade mais violenta da Serra no Atlas da Violência 2019 em razão do grande número de assassinatos, Carvalho diz não colocaria a Capital do Vinho como tão perigosa. “Temos um fenômeno que está acontecendo, mas é preciso ter uma visão macro”, pontua.

Desmistificar as facções

O comandante contradiz algumas falas de outros policiais e delegados, que remetem a maior parte das mortes violentas às organizações criminosas que atuam no estado. “Todos homicídios têm a ver com as facções? Não, não têm. Alguns foram crime passional, outros em confronto com a BM. Temos que desmistificar as facções”, declara. Segundo ele, em torno de 85% dos envolvidos em homicídios tinham antecedentes por crime de roubo, tráfico ou furto. “Existe essa relação”, declara.

Sobre a cooptação de menores para o tráfico por essas organizações, Carvalho diz que a situação não é tão problemática. “O que acontece, por experiência que temos em outras regiões é que, às vezes, o jovem, para se engrandecer no bairro, diz que é de uma facção. Isso aí é místico. Não quer dizer nada. São palavras jogadas ao vento”, afirma.

Ele diz que colocar Bento no topo da violência afasta os visitantes. “Por isso uso muito essa palavra “desmistificar”, porque é muito ruim vender uma ideia para o turista que Bento é uma cidade violenta. Aqui é uma região turística e não podemos passar a imagem de que é uma cidade sem lei”, ressalta.

Trabalho em conjunto para diminuir homicídios

Para combater os homicídios, que Carvalho afirma ser um fenômeno pontual, ele aposta no trabalho em conjunto com outros órgãos e na intensificação das abordagens. “A população já pode se preparar para isso, quem não deve não teme”, enfatiza. Ele diz que já há um trabalho sendo feito pela Polícia Civil, que deve ser uma grande aliada. “Minha ideia agora é fazer visitas aos outros órgãos para que a gente consiga trabalhar em conjunto e diminuir os índices criminais”, destaca.

Ele também afirma que a BM foi muito feliz com a criação do 4º Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque), com sede em Caxias do Sul, comandado pelo major Álvaro Martinelli, que deve ser mais um reforço para o combate aos assassinatos. “São dois trabalhos voltados especificamente para diminuir os homicídios. Primeiro: setor de inteligência. Tem que fluir a informação, também por parte da comunidade. É preciso monitorar as pessoas em situação de prisão domiciliar e com tornozeleiras, que podem ser possíveis homicidas. Paralelo a isso entra o trabalho dos outros órgãos de segurança”, planeja.

Prioridades no comando

Hoje, o 3º BPAT possui somente quatro motocicletas, mas Carvalho pretende ampliar esse número, tendo em vista a agilidade no policiamento e atendimento de ocorrências. Como primeira bandeira a ser defendida, ele define que quer intensificar a Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam). “É uma modalidade que dá uma resposta muito rápida e boa”, argumenta.

Com formação voltada à atuação comunitária, o comandante pretende reforçar essa modalidade na região, principalmente nos bairros mais periféricos. Ele afirma que a tecnologia auxilia muito no trabalho, mas é preciso valorizar o efetivo. “Sou de uma época que tinha um policial em cada esquina, hoje temos câmeras que substituem aquela pessoa. A tecnologia é importantíssima, mas preciso do ser humano para que chegue lá atender a ocorrência”, diz.

Outra ação que pretende reforçar é o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), para atuar preventivamente e evitar que os jovens consumam entorpecentes. “Fui surpreendido que aqui temos uma sala de operações de ponta. O Batalhão está muito bem organizado e andando muito bem. Vamos manter o que está dando certo e a gente coloca nosso tempero, nossa maneira de entender o trabalho. O objetivo é dar um resultado bom para a comunidade, qualidade de vida e que as pessoas se sintam seguras. Vamos acompanhar os dados estatísticos. Se melhorar, estamos no caminho certo”, finaliza.

Foto: Elisa Kemmer