Segundo voluntários do Lar da Caridade, problema com desabrigados é agravado pela falta de assistência do Poder Público

O corpo encolhido embaixo de um pedaço de papelão e a marquise de uma loja como teto. O agasalho é velho e quase não protege da temperatura de 0º. Essa é a situação de pelo menos 35 pessoas em situação de rua, de acordo com dados da Prefeitura de Bento Gonçalves. Já a estimativa do Lar da Caridade, que atende diariamente a eles, é maior.

A instituição estima que a cada 100 pessoas que passam pelo espaço, 80 estão nessa situação.
Na casa que sedia o lugar, no bairro São Francisco, são doados agasalhos e a comida é servida. Ali também funciona uma oficina de costura, de segunda a quarta.

De acordo com o ex-morador de rua Claudiomar Lima, que hoje trabalha no Lar da Caridade, não há qualquer subsídio do Poder Público para pessoas nessa situação. “O que falta é um incentivo para que mudem de vida. O cidadão tem problema com isso, com aquilo, mas nada é feito para ajudar a sair disso”, argumenta. Ele comenta que é difícil conseguir qualquer tipo de atendimento nos órgãos da Prefeitura.

Lima morou na rua por três meses, quando veio à Bento Gonçalves em busca de emprego, há pouco mais de um ano, no auge do último inverno. “É dificílimo pelo frio intenso, pela roupa molhada e a alimentação. Em Bento não existe auxílio, até para conseguir um telefonema é difícil. Só o Lar da Caridade ajuda”, salienta.

De acordo com um dos voluntários, Marcos Kalil, a principal carência da entidade é por roupas masculinas. “No período de frio e de chuva, agrava ainda mais”, salienta.

A grande procura por agasalhos torna difícil para os voluntários responderem a demanda, uma vez que o número de doações é insuficiente. Por consequência disso, Kalil explica que a distribuição teve que ser limitada a dois dias. “Durante a semana, conforme a gente têm, nós vamos socorrendo quem precisa”, comenta.
Para incentivar a arrecadação, o voluntário aponta que está fazendo a campanha “Cobertor do Bem”. Quem estiver interessado em ajudar, pode adquirir vouchers no próprio Lar da Caridade.

Segundo a secretária adjunta de Habitação e Assistência Social, Milena Bassani, muitas pessoas que estão em situação de rua por opção. “A gente deu auxílio passagem para 25 deles voltarem às suas cidades de origem. Estamos trabalhando muito com uma abordagem social, para buscar vínculo”, aponta.

A secretária também coloca que os órgãos de assistência social buscam prestar auxílio para que eles tenham a possibilidade de sair dessa situação. “Nós queremos saber se eles estão em busca de um emprego, às vezes eles têm salário e não conseguem um aluguel pela burocracia. Assim a gente procura auxiliar eles”, aponta. O último levantamento, segundo Milena, demonstrou que havia 60 pessoas em situação de rua no município, mas que hoje são cerca de 35.