Integrantes do Consepro estiveram reunidos com o vice-governador do estado na busca de aumento para o efetivo na Serra Gaúcha

O número nove costuma soar positivo, harmonioso, afinal, se configura enquanto predicativa e anúncio de um possível dez, otimista que só ele. Porém, quando se fala em Bento Gonçalves e seu índice de violência, a história é outra. Aqui, a 9ª posição é ocupada dentre os municípios com maior quantidade de homicídios no estado.

No comparativo per capita, Bento é a mais violenta da Serra Gaúcha. A estatística aponta uma taxa de 33,9 mortes a cada 100 mil habitantes. Esses são os dados levantados pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a partir do Atlas da Violência 2019. De acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), até julho haviam ocorrido 25 assassinatos. Atualmente, a cidade já soma 42 mortes.

Os números relacionados à segurança em Bento são deveras significativos, porém, convivem com a ambiguidade de um sentimento que se expressa através da “tranquilidade” momentânea dos diálogos cidade afora. O fato é que nem todas as pessoas parecem ficar assustadas com as notícias de tiroteios e execuções, por vezes, em plena luz do dia. E isso tem uma razão. “Tirando os casos de feminicídio, na grande maioria dos homicídios, as vítimas ou estavam relacionadas ao tráfico de drogas ou eram usuárias. São bem evidentes as participações delas nesses casos. Não temos uma violência generalizada. São pontos específicos. São pessoas escolhidas, que acabam sendo vítimas”, aponta a delegada da 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP) de Bento Gonçalves, Maria Isabel Zerman Machado.

O perfil dos usuários
A Polícia Civil, em razão das investigações, acaba apreendendo mais cocaína e maconha, drogas geralmente relacionadas ao público de classe média, observa a delegada Isabel. A Brigada Militar faz muitas apreensões de cocaína e crack, mais encontrado em bairros periféricos. “Conforme o tipo de droga, a gente tem um tipo de usuário. O crack, por ser mais barato, está presente na vida daquela pessoa que já está furtando dentro de casa, ou é morador de rua. Acaba sendo o responsável pelos roubos em residências e lojas. O usuário de maconha e cocaína normalmente trabalha, possui um nível de vida um pouco melhor e condições de adquirir a droga mais cara, mantendo o seu vício. Ele ainda tem uma vida paralela ao vício. No crack, as pessoas acabam ficando envolvidas apenas nisso, tamanha a dependência”, avalia.

Mesmo sendo possível, num primeiro momento, apontar determinadas características para alguns usuários, a delegada ressalta não mais haver um local específico para o consumo de drogas. “A gente tem apreensões de droga em vários pontos da cidade. Os usuários são pessoas que não são pobres, nem moradoras de rua apenas, ou com vários antecedentes por furto. Pode ser um trabalhador normal. Se você ver, não irá saber. Não tem mais como qualificar, nem em questão de bairros nem de usuários, de tão generalizada que está, infelizmente”, observa a delegada.

Já quanto aos traficantes, pode ser difícil elencar uma ou outra característica, já que o índice de pessoas envolvidas com o tráfico e o consumo, de acordo com Isabel, tem crescido cada dia mais. São traficantes que não necessariamente estão envolvidos com alguma facção. Eles podem ser autônomos. “A gente tem uma cidade com grande poder aquisitivo. Então, o índice de pessoas envolvidas com drogas, tanto de posse quanto de traficantes, é bastante alto”, destaca.

Número de apreensões

Embora com falta de efetivo, além do fato de os criminosos estarem mais cuidadosos, com ações mais elaboradas, a delegada Maria Isabel considera o balanço das últimas operações muito satisfatório. Armas de precisão, cartuchos, uma quantia considerável de dinheiro e veículos figuram dentre os materiais apreendidos.

Porém, não seria interessante dizer, segundo a delegada, que esse número tem aumentado nos últimos tempos. “A gente já teve, em anos antigos, apreensões de 70 quilos de maconha, mais de 20 quilos de crack. O importante, na verdade, para nós, diz respeito às pessoas retiradas de circulação, praticando o tráfico. Não adiantaria prender só uma pessoa com 70 quilos de drogas ilícitas. Na minha visão, é melhor que eu tire 12 pessoas, ou 27 pessoas, no ano inteiro, com pouca droga, do que uma pessoa com bastante. Claro, a gente sempre fica feliz quando se apreende muita droga, mas focamos mais na questão do indivíduo”, reitera a delegada, informando que de janeiro até agosto, foram realizadas 11 operações pela Polícia Civil de Bento Gonçalves e foram presas 27 pessoas.

Outra característica observada por Maria Isabel é que, atualmente, os traficantes carregam menos drogas com eles, justamente em função da possibilidade de serem surpreendidos pela polícia e, nesse sentido, poderem alegar que estão somente com a quantidade para uso próprio. Além disso, embora a Polícia Civil procure atuar no momento correto, nem sempre a droga está no lugar descoberto na investigação. Em algumas situações, ela pode estar alocada em outro lugar ou até mesmo ter sido vendida no dia anterior. As drogas também já estão sendo vendidas por tele-entrega, em todos os lugares da cidade.

A maioria dos presos, quando são autuados em flagrante, respondem o processo na cadeia, justamente pela comprovação de que o envolvimento deles em uma quadrilha representa liberdade nociva pra sociedade. “Conseguimos demonstrar isso na operação. Casos de pouca apreensão de drogas, mas que as pessoas ficam presas porque a gente conseguiu comprovar que, embora tivessem, naquele momento, pouca droga, já fazem do tráfico a sua atividade de vida”, enfatiza a delegada. Normalmente, eles não ficam na região onde foram encontrados, pois não existe situação favorável.

Na tarde de quarta-feira, 21, foram cumpridos dois MBAs expedidos na Operação “Destino”, realizada pela Polícia Civil, investigando o delito de tráfico de drogas. No Bairro Progresso, foram presos dois homens (31 e 55 anos) em flagrante, sendo apreendidos 29 pedras de crack, 35 gramas de cocaína, balança de precisão, dinheiro em notas diversas, material para embalo dos entorpecentes e aparelhos celulares.

Na segunda-feira, 2 de setembro, a Brigada Militar realizou a apreensão de 545 pedras de crack, 31 petecas de cocaína, 387 gramas de maconha e R$ 386 em dinheiro, que estavam em posse de Gerson da Silva, 31 anos, quando foi abordado em um conhecido ponto de drogas na Rua Ari da Silva. De acordo com a polícia, o homem já possui antecedente por tráfico, uma ocorrência de porte ilegal de arma de fogo e quatro por roubo a estabelecimento comercial.

Operações da Polícia Civil (até agosto)

  • 11 operações;
  • 27 presos;
  • 30 comprimidos de ecstasy;
  • 18,535 g. de maconha;
  • 1,072 g. de cocaína;
  • 160 g. de crack;
  • 67 cartuchos (38,380 e 9mm);
  • 3 armas de fogo (38,380);
  • Veículos;
  • Telefones celulares.