Não sei se nós, os que nascemos antes (bem antes), estamos ficando muito burros, ou se as crianças de hoje estão ficando muito espertas. É impressionante como elas perguntam sobre tudo e mais um pouco, sem que tenhamos bons argumentos para responder ou convencer. Acho até que devo reconsiderar aquele papo de geração índigo e geração cristal…

De acordo com essas teorias, em cada época, alguns seres humanos nascem com uma energia mais evoluída do que os demais. É um campo energético colorido e que, a partir de 1970, ganhou a tonalidade azul índigo, que pode ser vista na aura das pessoas. (Treinei tanto as técnicas sugeridas pelos esotéricos da Internet, que acabei vendo a aura do relógio de parede). No ano 2000, os padrões mudaram um pouco, surgindo assim os cristais, também com a função de elevar o grau de espiritualidade do ser humano.

Depois dessa reflexão, fico à vontade para justificar a minha lerdeza diante da argúcia das crianças. Afinal, elas podem ser cristais. Inclusive um determinado baixinho que eu chamava de “amor”. Chamava, porque, no alto dos seus quatro anos, ele determinou:
-Vó, para de falar “amor”. Me dá tosse.

Confesso que fiquei chocada. Mas passei a me policiar, especialmente no meu dia de babá. Aliás, foi nesse último encontro, que tivemos um diálogo bem sugestivo. Ele, sentado no vaso sanitário, eu, de pé, ao lado:
-Hoje você tá demorando, né, “am..,” opa… né, Benício?
-Tô fazendo um cocô gigante, do tamanho do Hulk.
-Credo! Vai entupir o vaso…

Ele sabe distinguir a realidade da imaginação. Por isso pergunta se entupiria colocando papel. Eu respondo que sim e ilustro contando que, uma vez, a gente teve que arrebentar o vaso por causa das artes do pai e tios dele quando pequenos.
-Já pensou se isso acontecer aqui?

Com a segurança de um Paulo Guedes, ele responde que é só pagar para o homem do conserto, eu retruco que não é fácil ganhar dinheiro e se a gente gasta com isso, vai faltar grana pra comida, roupas, brinquedos, remédios, cinema, coisa e tal, inclusive pra escolinha. Ele então alonga o pescoço, arregala as duas “jabuticabas” e, num meio sorriso, pede a confirmação:
-Aí eu não vou mais pra escola, né?!