No dia 17 completo 71 anos. Os aniversariantes de agosto levam dois animais na garupa: o leão pelo signo e o cachorro louco por ser agosto… e não me perguntem porque pois também não sei.
No copo de cristal coloquei uma boa dose de conhaque, presente do João Benedetti, e me acomodei na cadeira de sempre, onde sento para as refeições, sento para olhar os netos bagunçando, sento para conversar com a Margaret, para ouvir a família e amigos, para ler o Semanário e sento também para pensar.

Apenas o conhaque e a cadeira como companheiros num fim de tarde, frio uma barbaridade, muito silêncio e os olhos fixos no nada. Nesta nostalgia o pensamento voa e se solta.

Comecei rebuscando o fator tempo no estreito pedaço da vida que tem início, meio e fim, um presente de Deus. Agradeci pelo presente. Nada havia para ser acrescido ou mudado no tempo já passado, até porque só se muda o por viver.

São 46 felizes anos de casado com a Margaret, mais os seis anos de namoro; são 55 produtivos anos de trabalhador, mais de quatro décadas com carteira assinada; são 32 anos dedicados às Empresas BERTOLINI; são dois filhos, três netos, uma neta e outra mais que já vem aí em outubro, a Joana. Tudo só coisa boa! Tinha mesmo que brindar meu primeiro gole do bom conhaque com um agradecimento a Deus.

Passei a mão no rosto e o tato não sentiu nenhuma ruga (só o espelho mostra a realidade); passei a mão nos cabelos feliz que a maioria ainda está preso no seu lugar, embora o Vicente tenha informado no último corte que já são raros; olhei a condensação das gotas que escorriam no copo e enxerguei com perfeição; apalpei a barriga, conquistada com ótimos jantares, bolos da Cleci e biscoito de Cotiporã, barriga que ainda tem espaço para crescer embora já tenha aumentado os furos do cinto FASOLO; tudo estava literalmente justo e perfeito. Que felicidade!

O corpo ainda inteiro depois de 71 anos de uso e alguns maus tratos e a cabeça funcionando a mil. Sorri com tais pensamentos.
Fui para o futuro e lembrei da crônica publicada a duas semanas: O FUTURO NOS PERTENCE. Escrevi sobre Bento, minha cidade.
A testa franziu, parecendo preocupação e “pré ocupar-se” com as coisas que estão por vir é contrariar uma das parábolas de Jesus: “olhai os lírios que crescem no campo; olhai os pássaros que voam…”. Mas que a testa franziu, franziu!

Fato é que o pensamento voltou-se para o cidadão, desejoso do melhor lugar para viver. Bento é este lugar, meu, de minha família, de meus amigos e de uma população que merece ser feliz.
Quero muito o bem da cidade e até pode ter seus inconvenientes mas é o melhor lugar para se viver.

Não sei o tempo que demorou esta conversa comigo mesmo e talvez com Deus. Ele até pode não responder nossas perguntas mas ele nos ouve.
A algazarra dos netos que adentravam pela porta da garagem interrompeu minha introspecção.

Tomei o restinho de conhaque que estava no copo e disse para mim mesmo: sou feliz!