Homem na lua em Monte Belo
20 de julho de 1969. Estávamos eu, então Secretário de Governo do Município, meu Prefeito Sady Fialho Fagundes e o motorista Perin, na Festa da Comunidade da Linha Caravággio, então Distrito, hoje Município de Monte Belo. Depois da missa, do almoço, continuamos reunidos em torno de uma mesa grande, nós, uns 15 líderes comunitários e uns garrafões de vinho, é claro. No balcão do salão tinha umas quatro melancias alinhadas. Em determinado momento, o Prefeito disse “tragam duas melancias”. Abriu as melancias, distribuiu os pedaços e começou a comer. Eu sempre aprendi, lá em Barracão City, que depois de tomar vinho não se deve comer melancia, principalmente depois de uma “chucatela”. Olhei desconfiado para o Prefeito e ele disse “vamos Doutor, tá boa, manda ver”. Quando vi que ele não ia morrer, ataquei. O Sub Prefeito Salvador atacou e, aí, todo mundo comeu a melancia, foram as quatro e ainda faltou. É preciso dizer que as cozinheiras vinham espiar e diziam “maria vergine el vá crepar”. Ninguém morreu, ficamos turbinados isso sim, vinho e melancia é a formula. Li um artigo em que dizia “vinho e melancia é uma mistura que faz mal para algumas pessoas, mas elas não vão ter tempo de saber”. Será verdade?

Subida no Morro
Mas Fialho não sossegava. De repente, lá pelas cinco horas ele disparou “vamos fazer uma competição”, levou todos para fora e disse: “vamos ver quem chega antes lá em cima daquele morro”. Bem, o morro ainda está lá e a ‘escalada desafio’ não era fácil. Fomos todos. Em cinco minutos, Fialho já tinha chegado lá em cima, eu estava na metade do caminho, parei e pensei “mais vale um covarde vivo do que um herói morto”. Olhei para trás e tava uma fila indiana de pessoas desistentes e cambaleantes. O Prefeito, que tinha formação militar, venceu a aposta, cujo prêmio era uma melancia, já consumida porque não tinha mais.

Jantar e mais Vinho
De volta da maratona, fui até o banheiro que ficava atrás do salão, esvaziei a melancia e pensei – sempre que vou ao banheiro eu tenho ideias – vamos embora agora, ideia simples não? Voltei e onde estava o bando todo? Sentados no salão de novo. As madames da cozinha debruçadas no balcão – Fialho era uma festa – de repente o Prefeito disse “sai um risoto aí com as sobras de churrasco”? Eu ouvi uma delas dizendo “Dio Santo, me toca lavorar ancora”. Enquanto o lobo (risoto) não vem, mais vinho, mais cânticos – ainda bem que não eram gregorianos – mas italianos, com o Prefeito puxando o coro, para azar da galera ele sabia todas as canções italianas e a origem de cada uma. Tomei uma providência: chamei o motorista Perin e disse “vai pra casa, não tenho ideia de quando e como vamos voltar, a coisa aqui vai longe, vai lá com tua família”. Quando chegou 23h 30 minutos, eu falei: “bem meu Prefeito, vamos embora, só tem um problema, dispensei o motorista, como vamos voltar”? Ele foi rápido na resposta: “de tombeira, o Salvador nos empresta e amanhã vai buscar”. Plano de viagem traçado, nos despedimos diante de faces com a expressão “Gracia a Dio”. Subimos os três na tombeira e fomos até a Vila. Salvador ficou em casa, Prefeito no comando da tombeira, eu como assistente e “go to the more beautiful city of the world”.

A Parada Deslumbrante
Quando íamos começar a descida, liguei o rádio e, de repente, ouvimos a transmissão da descida do homem na lua. Um privilégio triplo: uma tombeira, única no mundo que tinha rádio; o vislumbrar majestoso do céu e da lua cheia, e o Armstrong pisando lá, na lua que estávamos admirando, de dentro de uma tombeira da Sub Prefeitura de Monte Belo. Momento que não pode ser registrado nem por live, nem selfie, essa redes sociais, e nem pela minha Kodak que tinha ficado em casa. Ficou só no “chip” da memória.

Por que a lembrança
Bem, vi as publicações e reportagens das reminiscências históricas e me considero, porque não, parte integrante do feito histórico da descida do homem na lua. O Prefeito Fialho, o Salvador, já se foram, mas o Perin está por aí e pode atestar que esta história é rigorosamente baseada em fatos reais.

Assino embaixo

“Ser italiano é uma escolha. É ser apaixonado pela vida. É valorizar o tempo. É curtir não fazer nada e chamar de ‘dolce far niente’. É falar com as mãos e comer com o coração. É dormir à tarde, sonhar de dia e cantar alto à noite. É acreditar que o simples é melhor. É tratar a terra com respeito. É permitir-se ter prazer sem culpa. É amar os amigos. É amar a família. É misturar o novo com o clássico e produzir o elegante. É separar o singular do óbvio para criar o autêntico. É acreditar que tudo pode ser mais gostoso, mais belo e mais especial. É manter o sorriso por mais tempo no rosto, o sabor por mais tempo na boca e a lembrança por mais tempo na memória. Porque ser italiano é um estilo de vida.”

(Autor Desconhecido)