Após os desdobramentos da Operação Carne Fraca, o presidente do Sindicato das Indústrias de Alimentação de Bento Gonçalves, Mauro Gasperin, declara que os frigoríficos grandes depositam ‘sobras do mercado’ no Rio Grande do Sul. De acordo com relato do presidente, quando as mercadorias estão próximas da data de vencimento ou vencidas, são repassadas para fatiadores terceirizados, que modificam a data de vencimento e colocam os produtos no mercado.

Segundo Gasperin, embora a prática de vender carne vencida ou prestes a vencer seja recorrente nas grandes redes de frigoríficos, ela não ocorre com intermédio das empresas menores, que possuem produção limitada. “Os pequenos não tem estoque tão grande”, comenta. O presidente afirma ainda que as sobras são destinadas a fatiadores em cidades maiores, como Caxias do Sul e Porto Alegre, para após serem embalados novamente com outro rótulo.

A destinação correta da produção, explica Gasperin, é a ração animal ou o consumo rápido, quando no caso dos produtos estarem próximos da data de validade. “O produto renasce”, comenta o presidente. Ademais, o presidente conta que nesta semana recebeu uma ligação de um frigorífico lhe oferecendo por um preço menor do que o praticado no mercado a produção excedente de costela defumada. “Mas nós só fabricamos”, ressalta.

Gasperin ainda aponta que a inspeção sanitária do Rio Grande do Sul é extremamente rigorosa e severa, apesar de contar com poucos recursos para exercer o trabalho. “Eles têm uma limitação física”, observa.

 

“PF foi inábil”

Mesmo com o teor da denúncia realizada por Gasperin, ele acredita que a Polícia Federal (PF) foi inábil na divulgação de informações da Operação Carne Fraca. Segundo ele, a instituição deveria ter se cercado de profissionais com conhecimento técnico sobre o conteúdo das denúncias. “Dizer que um produto é cancerigeno, isso não existe. Ele é um conservante como qualquer outro”, opina.

Na opinião do presidente, em todos os ramos do mercado “há pessoas boas e pessoas mais ou menos”, mas não concorda com os exageros cometidos pela PF. “O caso do papelão também é um exagero. O que acontece é que tem setores das fábricas onde não pode entrar caixas de papelão, mas não que era posto este material nos produtos”, esclarece.

Embora discorde da forma como a PF tratou o caso, Gasperin reitera que considera importante que casos do gênero venham à luz. “Agora a fiscalização vai dar uma ‘dura’ e a situação vai se normalizar por um período, mas as pessoas têm memória curta”, prevê. O presidente ainda aponta que qualquer produto de carne que custe menos de R$ 10 pode não ter qualidade, devido ao custo de produção.

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