Há um tempo atrás andava cansada, sem ânimo. Depois que comecei a me exercitar, minha vida mudou totalmente, estava mais disposta, mais ativa e mais feliz. Sempre funcionei no 220V, cheia de freelas e projetos legais, ajuda amigo aqui, curte festinha ali, vai pra academia, faz marmita, flerta (pouco), dá atenção para o filho de quatro patas.

Mas 2018 saiu sorrindo sarcasticamente, e, fechou ao meu redor, uma membrana de procrastinação e preguiça, aparentemente espessa e sombria.

Minha mãe ainda me alimenta às vezes. Esses dias resolvi comer o feijão que ela trouxe com tanto amor – que ela não leia isso. Eu normalmente limpo a geladeira para receber o feijão (faço isso com guarda-roupa também), guardo o feijão, planejo uma refeição com o feijão, e acabo não comendo ele nunca, a não ser a colherada quentinha no momento em que ele chegou.

Então, já que em 2019 devemos começar a mudança por nós, fiz a primeira coisa diferente: comi o tal do feijão. Disseram-me “um passo de cada vez”, “faça pequenas mudanças”. Estou fazendo!

O trabalho de construção é árduo, demorado, cansativo. Mas ele nos dá esperança, pois sabemos que dia após dia, veremos algum tipo de avanço. Reconstruir já é muito mais complicado. É ver o tsunami ter passado e feito bagunça, destruído suas coisas. É ter que juntar os escombros e fingir que aquilo não era importante, que você pode trabalhar para ter outro igual, ano que vem.

Não há outro jeito! É preciso pensar que foi por um motivo, que podemos reconstruir tudo do mesmo jeito ou até melhor. De forma alguma quero comparar uma perca com outra, seja de bens materiais, pessoas, freelas, dignidade. Para cada um, a perda tem um significado, um impacto diferente. Mas é preciso ter forças, recomeçar, reconstruir, redirecionar para poder seguir em frente.

É difícil sair da zona de conforto. Ela é quentinha, macia, tem cheiro de manhã ensolarada. Mas ela não nos leva a lugar nenhum, faz as horas passarem como manteiga no pão quentinho. A passagem da procrastinação para o sucesso é uma membrana fina, que assusta pela aparência turva, parecendo ser tão intransponível. Toda vez que não sei sobre o que escrever, penso em pedir demissão chorando compulsivamente, fazer exatas, lavagem cerebral ou qualquer outra coisa extremamente punitiva. Mas minha responsabilidade fala mais alto, e por mais que faltem apenas algumas horas, eu PRECISO fazê-lo.

Quando isso acontece, geralmente escrevo um assunto ‘mara’, em um tempo recorde. E tenho mais mil e dois exemplos, como ir para a academia: a gente vai guinchado e sai de lá renovado agradecendo por ter ido, não é? É o medo dessa dor que não dói, que precisamos perder.

Ufa!

Dê um passo, ou meio! Mas não fique reclamando no lugar.

Depois que eu comi o feijão, não é que eu me senti muito melhor? Talvez porque seja fonte de vitamina B e ferro e estava com anemia. Mesmo que tenha dado passos miúdos em direção às mudanças que quero ver, melhor colocar a culpa no feijão. Depois vão dizer que é mérito.