Segundo a psicóloga Franciele Sassi, o segredo para um relacionamento duradouro está na comunicação e confiança desenvolvida no casal

A paixão entre duas pessoas é um sentimento que transborda o peito, enche os olhos e cativa a todos ao redor. Há amores que começam tímidos, como uma amizade, mas logo se consolidam, cresce e viram casamento. Outros já iniciam intensos, sem medidas. Em meio a juras eternas, casais terminam relacionamentos e modificam o status de namoro ou casamento para amizade. Conforme os cartórios de registros civis em Bento Gonçalves, 206 casais averbaram divórcios, desdes 84 casais já findaram suas uniões em 2018.

Se para amar não há receitas ou fórmulas, há quem defenda que o segredo para a longevidade da união seja o respeito e tempo dedicado ao outro. A psicóloga especialista em teoria, pesquisa e intervenção em luto e perdas, Franciele Sassi, atrela aos motivos da separação a ampla comunicação que as tecnologias submetem as pessoas. “Os casais têm uma vasta possibilidade de escolhas e, individualmente, cada pessoa soma conceito, opiniões e projetos de vida bem estruturados, o que torna possível fazer trocas na medida em que as perspectivas do outro, numa união, não são condizentes”, ressalta.

Franciele também qualifica a comunicação a sensação de que os casais se separam mais nos dias atuais. “Isto é um reflexo da quantidade de informações a qual a população está submetida hoje, uma vez que o desenvolvimento de fora também causa efeitos no “aqui dentro” e, lidar com a grandeza dos estímulos externos acaba sendo um desafio, pois requer o aprimoramento de estratégias emocionais para o mantimento da concentração e foco em algo que possa permanecer numa sociedade onde tudo é passageiro e superficial”, disse. Ela ainda comenta que “parece-me que duas pessoas não optam por unir-se ao mesmo tempo em que já pensam na possibilidade de a relação não dar certo”, comenta a especialista.

Sentimento durador e sadio

Corroborando com a metáfora de que o amor entre duas pessoas é “como uma flor, que deve ser regada diariamente”, Franciele atribuiu ao relacionamento um conjunto de trocas simultâneas que construam a confiança. “A possibilidade de investimento e as trocas conjuntas que oferecem ganhos como o senso de importância, o reconhecimento do outro e o lugar deste enquanto alguém especial é o que faz com que uma união perdure, mesmo diante das diferenças”, ressalta.

Franciele também diz que o segredo de uma relação, para além daquilo que conhecemos como amor e respeito, está na disponibilidade afetiva e acessibilidade que um oferece ao outro e vice-versa, sobretudo diante de necessidades. “É comum que, antes de uma separação, os casais busquem alternativas para resgatar o que eventualmente foi perdido. O triste talvez esteja na forma como isto acontece: os casais costumam buscar ajuda apenas quando a relação está por um fio e ambos já não suportam mais ficar juntos, e maltratam um ao outro com gestos e palavras que ferem e desgastam ainda mais a relação”, relata a psicóloga.

A especialista comenta que este fôlego tardio e a procura por ajuda acabam sendo vista como a alternativa “mágica” para a solução dos conflitos. “Reconsolidar os conceitos de uma relação levam tempo e paciência para serem revistos e reconstruídos”, destaca Franciele.

Franciele Sassi é especialista em causas de perdas e luto. Foto: Reprodução.

Ajuda após o término

Cada pessoa em sua particularidade apresenta diferentes reações frente a rupturas sentimentais. Enquanto para alguns externar as feridas é uma forma de desafogo e terapia, outros preferem o silêncio e a autoinspeção. Conforme a psicóloga, as mulheres são quem mais busca auxílio, mas isso não significa que sintam mais. “A diferença é que elas comumente expressam os seus sentimentos e, socialmente, isso é aceitável, enquanto o homem é reservado, fruto de uma cultura que ainda hoje preza que o ser masculino precisa mostrar ser forte e dar conta dos problemas”, observa.

Franciele também ressalta que a dor não é passível de escolha e nem de medidas. “Por isso, defendo que, para uma relação funcionar mesmo com as suas diferenças, até porque acredito que a riqueza das relações reside justamente nelas, a comunicação entre o casal precisa, desde o início, ser clara e objetiva, onde cada um pode entender que existe um espaço seguro com o outro para compartilhar medos, angústias, dificuldades, incômodos, bem como desejos, conquistas e boas expectativas” orienta a especialista.

Questionada sobre os ruídos que levam ao desgaste e por consequência ao fim de um relacionamento, Franciele é objetiva. “Relações que se estruturam por meio de indiretas e joguinhos não se sustentam por muito tempo, pois geram incertezas e sentimento de insegurança, que abrem margem para fantasias negativas sobre a relação”, analisa.

Amor não é uma receita

Querendo vender a ideia de que relacionamentos são lindos sem qualquer tipo de problema entre ambas as partes, o cinema propõe em uma enxurrada de filmes, como por exemplo, Querido John; 10 coisas que eu odeio em você; P.S eu te amo; Como se fosse a primeira vez; Um amor para recordar, entre outros, um forma utópica para os romances. A especialista defende que estes conceitos sobrepostos pela cultura midiática são prejudiciais na concepção das uniões.

Franciele reforça que um relacionamento se consolida a partir da boa comunicação entre o casal, associado ao sentimento verdadeiro. “Deve-se compreender que cada casal constrói a sua relação com base na bagagem da sua história. Cada pessoa era alguém individual, antes de ser alguém em união, e isto também reflete diretamente no modo como cada um se comporta e expressa o que sente quando numa relação”, disse.

Ainda sobre hostilidades e a forma como ambos os lados devem lidar e enfrentá-los, Franciele ressalta: “não existem receitas prontas, encontradas em livros, que possam magicamente tratar conflitos ou que ensinem os casais sobre como podem ser felizes para sempre”.

Por fim, a especialista em teoria, pesquisa e intervenção em luto e perdas, revela, com base nos atendimentos, o segredo para um relacionamento duradouro. “A construção conjunta, entre passos para frente e para trás, é o que permite que os casais se experimentem de verdade e promovam sentido para as suas vidas”, afirma Franciele.