Apesar de saber que sempre devemos fazer (1) por nós, (2) sem prejudicar os outros, (3) tentando ajudar o máximo possível, (4) sem dar bola para o que pensam, ainda vivo alguns momentos de extrema futilidade. Vivi muito tempo escolhendo fazer o que os outros queriam, porque iria agradá-los e me achariam a pessoa mais legal do mundo. E me sentiria a pessoa mais legal do mundo, naquele momento.

Essas escolhas tomadas com tanta inocência (lê-se burrice) foram tão dolorosas (e ainda são) e me fizeram entender que não preciso matar, no sentido figurado, ninguém da minha família para dizer que não quero ir. Que não preciso ser aquela pessoa que “vamo?” “Vamo!”, porque existem prioridades que vêm antes de tudo isso: estudos, trabalho, família, finanças, ou simplesmente um sofá chamando para ver um filme.

Mas nem sempre consigo seguir à risca. Às vezes é só fazer a cara do Gato de Botas com um sorriso maroto que eu topo. Mesmo que eu tenha que vender um rim para comprar o ingresso, ou tenha que desmarcar outro compromisso. Inenarrável como consigo ser extremamente influenciável quando quero.

São raras, mas essas jogadas de me prometerem o mundo, um namorado, lanches e open bar, é muita tentação. Como não aceitar? Ah, só se vive uma vez…e lá vou eu contando os minutos para me arrepender. Apesar de tudo, sou muito ciente do que estou fazendo:

– Agora, senhoras e senhores, estou fazendo algo do qual vou me arrepender com certeza em alguns dias, horas ou minutos. Então, ‘let’s do it’!

A que ponto chega a psicopatia. Mas acho que todo mundo tem um pouco disso, porque no momento em que come aquele brigadeiro de panela inteirinho depois de um balde de pipoca, não tem como não saber que em poucos minutos vamos estar abrindo o zíper da calça, chorando e limpando as lágrimas com uma folha de alface.

É difícil fazer as próprias escolhas. Abdicar de uma coisa para ter outra, afinal, quem não gostaria de ter tudo, agradar a todos, a si mesmo e ainda postar uma foto realmente feliz no Instagram? Precisamos fazer escolhas todos os dias: acordar ou dormir mais 5 minutos? Tomar café ou maquiar-se? Reclamar ou achar o lado positivo? Fazer algo que eu precise ou ir na onda do outro?

Ainda existem muitas tribos que só aceitam quem faça isso ou aquilo, apesar de estarmos no século XXI. Carecem de amor próprio, essas pessoas.

As escolhas certas ou erradas só serão sentidas por nós mesmos. Teremos de viver com algumas por muito tempo, outras causam reações irreversíveis. E quando escolhemos pelos outros, dependemos deles para ser felizes, e até podemos ser, superficialmente e somente enquanto estiverem nos aplaudindo.