Quando passei a administrar as crises existenciais, entrei na crise da meia-idade. E uma das primeiras providências foi a reposição hormonal, indicada por médico especialista dos países baixos. Mas, numa consulta com profissional cuja expertise (palavra da moda) tem a ver com a região acima da linha do Equador, levei um susto. O cara teve um chilique ao tomar ciência do medicamento que eu estava usando:

– Quem foi o assassino que lhe indicou isso? – me questionou ameaçador.

Naquele momento, entendi que sempre existem duas versões – ou mais – para qualquer “verdade”, de acordo com o ponto de vista de cada um; que a certeza de hoje pode virar um engodo amanhã, e vice-versa, e que existem muitos interesses obscuros que nossa vã filosofia não é capaz de detectar a olho nu.

Vejam por exemplo o tal Ginkgo Biloba. Houve um tempo em que qualquer problema de saúde menos grave era tratado com esse fitoterápico. Lapsos de memória? Ginkgo Biloba. Labirintite? Ginkgo Biloba. Insônia? Ginkgo Biloba. Falta de apetite? Ginkgo Biloba. Muito apetite? Ginkgo Biloba. Não sei aos outros, mas a mim, o Ginkgo não fez biloba nenhuma.

Suco de limão com bicarbonato de sódio chegou às paradas de sucesso prometendo milagres: deixar o sangue alcalino impedindo a formação de células cancerígenas, fortalecer a imunidade, neutralizar as gorduras, matar as bactérias que produzem mau-hálito, cheiro nas axilas e nos pés. Parecia o anúncio da imortalidade. Mas então surgiu uma corrente da endocrinologia afirmando que isso tudo é balela e que, para algumas pessoas, o limão é inclusive contraindicado.

Nesse meio tempo, pairou no ar a mágica das sementes – quinua, chia, amaranto, linhaça, trigo, aveia, girassol…

Nem é preciso dizer que comprei tudo isso, misturei num pote e… joguei fora. Comida de passarinho não fez minha cabeça, mas entre os obcecados, há quem diga que só falta voar.

A cada dia que passa, um alimento muda de posição: se é herói, torna-se vilão e, se é vilão, ascende a herói. Assim foi com a manteiga, a margarina, o ovo, a banha, o óleo, o chocolate, o vinho tinto… E a gente, no meio desse tiroteio, tentando se safar das balas perdidas.
Mas quando se trata de medicamento, a coisa fica mais séria. É o caso da vitamina D. Assim como a maioria das pessoas deste país tropical, descobri que estou com deficiência da vitamina do sol. Até que fiquei animada, porque ando com uma preguiça de dar dó. De repente, é por causa da falta da tal vitamina. Então é só ingerir as pílulas diariamente e adeus soneca da tarde.

Mas (de novo a conjunção adversa) por esses dias, começou a circular, na Internet, um áudio em que suposta médica afirma que o laboratório americano fornecedor da vitamina usou parâmetros muito altos para estabelecer o mínimo aceitável e que a ingestão da droga provoca danos nas artérias e juntas. A voz do áudio não aponta conflito de interesses dos profissionais com a indústria farmacêutica. Diz apenas que foi aceito o “rótulo” laboratorial sem uma pesquisa prévia dentro da literatura médica.

Pois é! A dúvida está no ar. E agora? Tomar ou não tomar?