Não tenho a “caneta Bic” do Presidente Bolsonaro mas tenho uma máquina de escrever Triumph, Gabriele 10, importada da Alemanha pela Comabe e que paguei “com o suor do meu trabalho” quando era estudante. É com ela que estou transbordando meus sentimentos natalinos. De onde estou escrevendo vislumbro o vale do Barracão, localidade onde nasci e cujo Natal era profundamente religioso. Tinha o costume de passar de casa em casa desejando “Feliz Natal” e voltava para casa com os bolsos cheios de moedas pois eu era um “menino querido” e neto do “Rico Caprara”. Outro momento que me enchia de felicidade especial era o dia da Festa de Nossa Senhora da Salete. No jogo dos cavalinhos eu apostava no nº 4 que era da “barata” (carro de corrida) do Aristides Bertuol. Vendia rifas e eu tinha um desejo ardente de ganhar, no sorteio, uma estátua de Nossa Senhora. Até que um dia aconteceu. Começou ai meu interesse pela Arte Sacra. Quando viajo gosto muito de visitar igrejas, suas artes sacras, sua história, gosto muito de museus, esculturas, pinturas, tudo que me reporta a história, cultura e talentos artísticos. Quando vou a Igreja Matriz Santo Antônio, sinto falta da presença do púlpito, feito com madeira nobre e esculpido artesanalmente, não sei porque desapareceu, ele tinha muita história.

Na hora do sermão os Padres caminhavam do altar até ele com aquela irreverência, com aquela pompa religiosa e, de lá de cima, no meio da Igreja, disparavam seus sermões de, no mínimo, uma hora. Memoráveis foram os sermões do Pe. Ernesto Manica que falava de olhos fechados e só parava quando “um mosquito lhe picava”. Ninguém gostava de ir a missa do Pe. Manica, que durava duas horas, incluindo sermão. Bita Giovaninni tinha uma Galeria de Arte, num dos prédios históricos que ainda sobrevivem, e que ainda é da família, ali em frente ao Shopping Bento. Era um dia especial e eu estava ali admirando as obras quando Bita chegou e me perguntou: que tal? E eu disse: Bita, eu tenho dificuldade em avaliar a obra de um artista. E ela disparou: escolhe aquela que tu gosta, é assim que se faz. A partir daí ninguém me segurou, Bez Batti, Victor Hugo, escultores Uruguaios, Argentinos e, agora, Mauri Menegotto de carteirinha. De quebra, aqui no SISTEMA S, as paredes são ilustradas por mais de 25 obras de artistas Bento-gonçalvenses. Recentemente fui inserido no contexto dos padrinhos da Associação dos Artistas Plásticos. A sede da Entidade , que tem a presença também da Casa do Artesão, tem explendor e grande significação, me deixam orgulhoso.

A localização e implantação teve o apoio fundamental do Prefeito Pasin. Mas o meu encanto reside também no teatro e na música. Sou do tempo em que o Cine Aliança sediava a apresentação de peças de teatro nacional, era comum ver por aqui Procópio e sua filha Bibi Ferreira e tantos outros artistas Nacionais. Inspirado nesse “desfile de cultura”, o professor Tonico, que era Gerente do Banco do Brasil e tinha coluna em jornal, mais o empresário Vanius Michelin escreveram e produziram uma peça teatral, com vários quadros, inclusive uma escolinha onde cada liderança de Bento era representada. Eu diria que “nasceu em Bento” a Escolinha do professor Raimundo, do Chico Anísio. Foram apresentações em dois finais de semana, três sessões aos domingos com casa lotada, uma festa, uma comédia talentosa, riamos do começo ao fim. Hoje Bento revive uma época de eventos culturais – interessantes alguns sediados na Casa das Artes. Audições de Piano, Espetáculos de Ballet, de Patinação, Autos de Natal, Corais, figuram entre os meus preferidos.

Eu gostaria de dizer também que, embora não esteja a toa na vida (Chico Buarque), eu gosto de ver a banda passar. Assisti o Auto de Natal do Medianeira no qual foi encenado a peça “A Noviça Rebelde”, um clássico, mesclado com a presença, no palco, de forma alternada, de duas dezenas de crianças, todos alunos do Colégio. Uma coisa incrível, emocionante, exemplo de talento, de superação, atividade extraclasse da maior importância. Os colégios Sagrado e Aparecida também levaram a efeito o Auto Natalino, com a participação talentosa de dezenas de crianças. Presenciei também audição de Piano da Professora Regina Althaus, sempre reverenciando a precursora e saudosa Iraida Lahude, poderoso instrumento cultural. Assisti e me encantei, porque Ballet me sensibiliza, a apresentação da Escola Bailarte, das professoras Patricia Rigatto Paese e Ana Paula Zucolotto.

O Espetáculo foi apresentado na Casa das Artes. Dei um “Break” aqui e me lembrei de uma apresentação lá no Barracão do teatro de Fantoches que me marcou muito aos 8 anos de idade e, também, de ter assistido, em Nova York, as peças Fantasma da Ópera e Cat’s, fantásticas com seus efeitos especiais. Faço referência a visita que fiz ao Atelier do Escultor Mauri Menegotto ali na Vila Nova num sábado a tarde, quando pude constatar, não sem surpresa, a figura humana e o talento de Mauri assim como da forma com que cultiva o amor pela arte que redunda em suas belas, expressivas e talentosas obras. Uma delas inclusive emoldura a entrada da Sede da Associação dos Artistas Plásticos e Associação dos Artesãos, a primeira liderada por Ivete Todeschini e Neiva Poletto. A visita ao Atelier de Mauri foi complementada com um espumante na Pousada Don Giovanni em Pinto Bandeira, são momentos preciosos que expõem nossa sensibilidade, que reverenciam o talento e que estruturam a manutenção desses movimentos de apoio à arte e a cultura. Esta vivência nos remete ao passado, ao presente e ao futuro.

Vejo as crianças ao olhar para o futuro, estão indo estruturadas, sensíveis, cheias de saber, com valores positivos. No entanto, ao ver este futuro nos assalta também a preocupação de querer ver assegurados, emprego, realização, relacionamentos estáveis em meio a uma sociedade tão confusa e desorientada. É dever dos adultos assegurar um futuro para as crianças, todos temos que lutar para que isso aconteça enfrentando, se preciso for, a mediocridade política e lutando para o desenvolvimento econômico, social e cultural do país. Com essa sensibilidade desejo a todos um FELIZ NATAL e um ANO NOVO feliz e realizador.