Mesmo com todos os avisos repassados exaustivamente aos condutores de veículos, assim como o endurecimento da legislação de trânsito no país, ainda é significativo o número de cidadãos que fazem de um veículo automotivo uma verdadeira arma. Como se sabe, o trânsito por diversos anos já superou homicídios e também já matou mais que doenças como o câncer de pulmão e de mama juntos, de acordo com algumas pesquisas. Isso significa que nenhuma fiscalização severa ou mesmo mobilização em prol da vida alcançará índices satisfatórios se não houver a contrapartida de todos aqueles que compõem o trânsito, isto é, pedestres, motociclistas e motoristas. Cada um precisa fazer a sua parte.

Recentemente, estudos feitos no Rio Grande do Sul constataram uma contradição percebida facilmente por quem circula por ruas, avenidas e estradas. Para os motoristas gaúchos, os responsáveis pelo trânsito violento e incivilizado são sempre “os outros”. Em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul e no Brasil funciona assim. Os outros são invisíveis. Você não é treinado em casa nem nas escolas para ver o outro como colega, como um sujeito que tem os mesmos direitos de usufruir o espaço de todos. Para nós, motoristas, é o contrário: o espaço de todos pertence a quem ocupar este espaço primeiro, com mais agressividade. Nós não olhamos para o lado, a não ser quando somos obrigados a olhar. E olhamos para o lado com má vontade, exatamente como acontece com o motorista quando para no sinal, que tem um cara na sua frente que está te atrapalhando. E um cara atrás de você que também atrapalha.

A frase “o problema são os outros porque eu dirijo bem” caracteriza muito bem o que é o nosso trânsito hoje. Infelizmente, pessoas que estão submetidas às regras das vias públicas brasileiras e do espaço público brasileiro, em geral, não aprenderam a ser igualitárias. A igualdade para nós é menos importante do que a liberdade. E em Bento não é diferente.
Os condutores esquecem muito rapidamente o que aprendem na autoescola. Quem dirige em Bento, na sua grande maioria, é mal-educado. Não ligam a seta quando vão virar à direita ou à esquerda. Atravessam o sinal vermelho, não respeitam a faixa de pedestre, dirigem sem o cinto de segurança e também falam ao celular. Estes são hábitos comuns nas ruas da cidade, só não vê quem não quer.

Os motoristas da Capital do Vinho pensam que estão acima do bem e do mal. Não ligam para as leis de trânsito e ainda têm a ousadia de culpar o agentes de trânsito por fazerem o seu serviço. Chamam de indústria da multa a punição pelas irregularidades que cometem. Várias campanhas vêm sendo realizadas para isso, porém, os altos índices de acidentes provocados por imprudência dos motoristas revelam que nem sempre as orientações estão sendo levadas a sério. Chegou o tempo de se repensar a forma de abordar o assunto, quem sabe não apenas com palestras e orientações, mas com uma punição mais severa. Somente quando sentirem o rigor da lei, e o peso no bolso, é que estes motoristas irresponsáveis irão adotar uma direção mais segura e somente assim teremos um trânsito com menos mortes.