A divulgação do Censo da Indústria Vitivinícola do Rio Grande do Sul mostra que nossas empresas ainda têm um longo caminho a percorrer para alcançar o crescimento tão esperado. Os dados revelam que um pequeno grupo está voltado para a exploração do mercado internacional, por exemplo e, menos de uma dezena dos integrantes do setor, pensa em se tornar grande. Onde queremos chegar? Esta é a pergunta a ser feita após a formação do perfil atual de nossas empresas.

O levantamento realizado pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) mostra que os nossos vitivinicultores têm um perfil conservador, resistente à procura por financiamentos e carente de profissionalização nos modelos de gestão. Afinal, 85% das empresas do setor ainda são familiares ou têm, no máximo, nove funcionários. Muitos mantêm a tradição de passar o negócio de geração para geração, sem procurar a expansão e tendo a sua sustentabilidade com a venda de vinhos e sucos em pequena escala.

Para estas empresas de pequeno porte, o crescimento do enoturismo foi um fator importante na melhoria dos negócios. Hoje ele representa 15% do faturamento dos produtores, que, normalmente, atendem seus clientes de forma direta. O estudo mostra que as vinícolas recebem, em média, 500 turistas, mesmo sem divulgação e estratégia de atração dos mesmos.

A manutenção de tradições centenárias e a forma artesanal de fabricação do vinho deixam a Serra Gaúcha com uma peculiaridade única em relação às demais regiões do Rio Grande do Sul. Quem vem para Bento Gonçalves, por exemplo, quer ver o rústico, a cultura simples do homem do interior. A modernização destas indústrias familiares, acabaria com uma característica fundamental para as pretensões turísticas da região.

Por outro lado, o foco em negócios de grande porte, exportação e expansão de mercado estão restritos a apenas 9% das 346 empresas que participaram do levantamento. Temos menos de 40 indústrias do setor trabalhando com exportação. Menos de uma dezena atuando com força no mercado externo e conseguindo emplacar alguns de seus produtos em seleções de vinhos internacionais.

É certo que temos um longo caminho a percorrer, até porque, hoje, os estrangeiros não veem o Brasil como um legítimo produtor de vinho, reconhecimento este que já foi alcançado por chilenos e argentinos. Precisamos investir em melhorar ainda mais a qualidade do nosso vinho, buscando atingir um nível de excelência já obtido há séculos no exterior. E, antes mesmo de conquistar o reconhecimento no mercado internacional, precisamos buscar espaço internamente, no mercado nacional, sem temer a concorrência e a preferência pelo vinho estrangeiro.