A retração da economia, que já atinge o setor industrial, parece estar às portas do comércio de Bento Gonçalves. O setor ainda não apresenta queda nas vendas, porém o aumento considerável da inadimplência tem feito os lojistas ligarem o sinal de alerta. O descontrole financeiro dos consumidores torna a situação ainda mais preocupante.

Em apenas três meses a inadimplência aumentou R$ 300 mil. São mais de 11 mil consumidores bento-gonçalvenses listados no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). No total, o comércio local espera por mais de R$ 7,3 milhões que deixaram de entrar em suas contas. O crédito facilitado e a falta de controle das vendas por parte dos comerciantes são algumas das questões apontadas pela Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) para o aumento considerável da inadimplência.

O crescimento é resultado da mudança de comportamento do comerciante que não está protelando em colocar no banco dos inadimplentes aquele cheque ou carnê parado por falta de pagamento na sua loja. O aumento da inadimplência preocupa o comércio e promove a elaboração de estratégias para evitar o calote nas vendas para o próximo Natal. Para flexibilizar o preço, os comerciantes apostam no alongamento dos prazos de pagamento e, para não correr o risco de não receber futuramente, investir nas vendas por meio do cartão de crédito e débito.

Embora estejamos muito abaixo da curva de altas de inadimplência assinalada do início de 2011 até início de 2013, o fato é que ela voltou a se manifestar, numa fase em que deveria estar sob maior controle, pois, os bancos, em virtude mesmo daquelas grandes altas, adotaram desde o início deste ano critérios de maior rigor no exame do crédito. Tanto assim que o governo passou a estimular 0 sistema bancário privado a oferecer mais crédito e colocou os bancos públicos a serviço dessa política.

As causas do aumento desse tipo de inadimplência decorrem, evidentemente, da queda na atividade econômica em geral, da queda no nível de emprego e de reajustes salariais menos condescendentes nos últimos meses. Em última análise, resultam do esgotamento gradual da propensão a consumir devido ao estreitamento, também gradual, das margens de ganhos de renda. O poder de compra está diminuindo. E o de pagamento de contas também.