A imprudência no trânsito de Bento Gonçalves é gritante. Basta sair às ruas para se deparar com motoristas que não respeitam o semáforo, param em cima da faixa do pedestre, dirigem em velocidade acima da permitida na via e não dão preferência. Sem falar nas grosserias, como palavras e gestos obscenos, além das buzinadas desnecessárias. Se todas essas irregularidades parassem apenas no estresse de dirigir, seria até aceitável. O problema é quando esses fatores provocam a morte de dezenas de pessoas e deixam outras centenas feridas, mutiladas ou com sequelas para o resto da vida.

Os números comprovam que a falta de educação no trânsito e a imprudência matam, tanto nas ruas da cidade, como nas rodovias da região. Somente em 2014, foram registradas 10 mortes nas estradas de Bento, grande parte delas na RSC-470. Um número considerado alto pelas autoridades policiais.

Neste final de semana, tivemos mais um caso onde a imprudência dizimou uma família inteira. Pai, mãe e filha foram velados juntos na segunda-feira, 14, sob o olhar e a dor de seus familiares, amigos e vizinhos. Não se sabe, ainda, os motivos que levaram o condutor a perder o controle do veículo, nem se as mortes estão ligadas ao excesso de velocidade impresso em um trecho que permite aceleração máxima de 60km/h.

E ainda temos que acompanhar as manifestações nas redes sociais contra o uso do radar móvel da Polícia Rodoviária Estadual. Como se fiscalizar fosse uma coisa errada. Chamam o ato de indústria da multa. Mas se todos andássemos dentro da velocidade permitida, ninguém seria multado, não é mesmo? Porém, é mais coerente recorrermos às redes sociais para criticar o que é correto, do que fazer o correto. É difícil afirmar, mas pode-se questionar uma coisa: será que a família Hartmann teria morrido tragicamente se o automóvel Corsa estivesse andando na velocidade permitida?

Em apenas uma tarde utilizando o radar móvel, os policiais rodoviários flagraram mais de 150 motoristas trafegando com velocidade acima da permitida. A velocidade máxima permitida neste trecho da rodovia é de 60 quilômetros. Se tantos, em apenas um turno, transgrediram o limite, é porque uma quase maioria, talvez, dos condutores, está muito mal-acostumada. Uma questão cultural esse mau costume. Como existe essa predisposição para transgredir, infelizmente há que se considerar a multa aplicada como um mal necessário. Nada mais evidente: sem pardais, o grande número de flagrantes indica que o limite de velocidade vem sendo amplamente desrespeitado pelos motoristas.

Infelizmente, o motorista brasileiro leva ao pé da risca o ditado que diz: faça o que eu digo, não faça o que eu faço. O Brasil tem um dos códigos de trânsito mais modernos do país, as mortes no trânsito, porém, são a prova de que ele funciona muito bem, no papel.