O trágico assassinato de nosso colega Noemir Leitão retrata, de forma fria e cruel, o que é a nossa sociedade nos dias de hoje. Há muito tempo não estamos mais seguros nem dentro de nossas casas. Mais do que isso: para muitas pessoas matar alguém virou uma coisa banal. Quase como ir ao banheiro ou escovar os dentes.

Leitão, infelizmente, é mais um número nesta estatística de homicídios que bate recorde em Bento Gonçalves. Teve sua vida ceifada em um momento de realizações e objetivos que estavam sendo alcançados. Sonhava com sua formatura no curso de Direito. Falava seguidamente da vontade de advogar em um júri popular, o que acabou não conseguindo concretizar.

Nosso colega pode ser considerado um exemplo de superação. A prova de que uma pessoa pode realmente se regenerar. Alguém que soube aproveitar a segunda chance que a vida lhe deu. Cumpriu sua pena, levantou a cabeça e escolheu fazer o bem a partir do episódio ocorrido.

E foi assim que viveu até a fatídica madrugada da segunda-feira, 27. Gostava de ajudar os outros. Quantos apenados ele auxiliou a recuperar a dignidade. Desde escrever um pedido de remissão de pena, até intervir para que o detento arranjasse um emprego. Foi uma liderança positiva dentro do Condomínio Residencial Novo Futuro, ajudando a organizar o convívio daquelas 420 famílias. Foi o primeiro síndico e garantiu muitas conquistas para quem estava pela primeira vez tendo direito a uma moradia digna.

Encontrou na igreja o equilíbrio que precisava para seguir sua rotina de superação. Sua religiosidade tornou-se tão acentuada que ele passou a pregar em cultos e nas casas dos fiéis. Precisava nosso amigo nos deixar de uma forma triste e inesperada. Não teve o direito de escolha e nem opção de seguir em frente. Sofreu uma emboscada vil e calculista, onde nenhum bem material foi levado e um único tiro interrompeu uma trajetória de vida promissora.

Em nossa Redação ele era o centro das atenções. Carismático e brincalhão, vai fazer falta em nossas reuniões de pauta, onde sempre largava uma de suas pérolas. Entre os colegas era conhecido como o “pau pra toda a obra”. Precisávamos de uma matéria rápida para fechar a edição, lá vinha a frase: “Chama o Leitão que ele já terminou todas as matérias”.

Quem conviveu com Noemir Leitão, seja no rádio, no jornal, na família ou no cotidiano das ruas, jamais vai esquecê-lo. Ele era uma figura carismática e muito querida em Bento Gonçalves. Todos, de uma maneira geral, aprenderam a respeitá-lo. Vai com Deus, caro amigo, e até um dia.