De acordo com o SINE, são poucas as vagas exclusivas para PCDs

Entrar no mercado de trabalho não é uma tarefa tão fácil. E se torna mais difícil para pessoas com deficiência (PCD). Para tentar mudar a realidade e assegurar que os empregadores deem oportunidade para esse público, desde 24 de julho de 1991 existe a lei de n° 8.213 que estabelece cotas para contratação de deficientes nas empresas.

A lei 8213/91 determina em seu art. 93 que as empresas com mais de cem funcionários devem garantir de 2% a 5% das vagas para pessoas com deficiência. Mas, na prática, não é exatamente o que acontece.

De acordo com dados do Sistema Nacional de Emprego (SINE) de Bento Gonçalves, o cadastramento de vagas exclusivas para pessoas com deficiência está baixo. Este ano, por exemplo, só tem uma vaga disponível, no momento. Não há uma grande procura para cadastramento dessas vagas por parte das empresas e, consequentemente, há mais público do que oportunidades de emprego para PCD.

A Presidente da Associação dos Surdos de Bento Gonçalves, Daniela Flamia, percebe que no mercado de trabalho existe preconceito em relação aos surdos. “A nossa maior frustração é ver que a maioria das vagas para surdos, é para trabalharem escondidos, como em almoxarifados, por exemplo. Sabemos que é difícil por causa da comunicação, mas eles têm muito potencial para trabalhar, só falta oportunidade. A gente gostaria que eles fossem vistos, mas não tem vagas de emprego assim”, lamenta a Presidente.

Angélica da Silva Fagundes, terapeuta ocupacional na Associação dos Deficientes Físicos (ADEF) acredita que ainda existem muitos obstáculos a serem superados para incluir pessoas com deficiência no mercado trabalhista. “A maior barreira é a falta de preparo, de informação e de orientação. As pessoas têm receio, despreparo de como lidar com os PCDs. É preciso ter profissional capacitado e habilitado nas empresas, para trabalhar com esses indivíduos, nesse processo de inclusão, ao menos no início”, explica a terapeuta Angélica.

A falta de preparo e conscientização é apenas um dos problemas observados pela terapeuta Fagundes. “Eu percebo que as empresas contratam pessoas com limitações mais fáceis de trabalhar, com deficiências mais leves, consequentemente, as pessoas com outras deficiências continuam ficando desassistidas e o processo não funciona efetivamente. Os empregadores poderiam olhar diferente para as pessoas com deficiências e tentar incluir elas no mercado de trabalho. A lei de cotas para pessoas com deficiência deveria ser mais específica nesses termos e a legislação precisa ser melhorada”.

Quem sente na pele as dificuldades para conseguir um emprego é o Leonardo Flamia, 20 anos, surdo, estudante educação física e também professor voluntário de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) para as crianças da Associação de Surdos de Bento Gonçalves. Flamia conta que já deixou seu currículo em lojas de esportes, lojas de vídeo e até em hospital, mas apesar das dificuldades, não desiste. “As pessoas pensam que o surdo não consegue trabalhar direito por causa da comunicação, mas eles estão enganados, nós somos capazes sim”, destaca Flamia. Mas, entre tantas incertezas, o jovem sabe bem o que quer para o futuro. “Meu sonho é me tornar empresário, ter minha própria academia. Além disso, desejo um futuro menos preconceituoso, onde exista mais respeito com as pessoas que têm alguma deficiência, que o mercado de trabalho evolua e que possamos todos ter as mesmas oportunidades”, relata Flamia.

O vice-presidente da Associação dos Surdos de Bento, Alex do Nascimento, 21 anos, é surdo e sonha em fazer faculdade de nutrição e trabalhar com surdos e ouvintes. “Estou dando aula de LIBRAS para adultos em uma igreja, recebo um salário para isso e está sendo uma boa experiência. Já o trabalho de 2° Presidente da Associação é um grande aprendizado, vamos crescer juntos aqui”, explica Nascimento.

Jeferson Billiar, 22 anos é surdo e integrante da Associação dos Surdos de Bento Gonçalves. “Atualmente eu trabalho junto com a minha mãe, sou auxiliar de padeiro em uma padaria, mas não é o que eu gostaria realmente de fazer, mas eu preciso do dinheiro para comprar minhas coisas, então trabalho lá. Acredito que a maior dificuldade no trabalho é a falta de entrosamento de outras pessoas. Com quem eu vou me comunicar no trabalho? Qualquer outro tipo de deficiência consegue se comunicar entre si, mas para os surdos é mais difícil”, relata Billiar.

Para o futuro

Para o futuro, a terapeuta Angélica da Silva Fagundes espera mais conscientização não apenas por parte dos empregadores, mas das pessoas, de modo geral. “A pessoa com deficiência deve estar preparada para ser incluída na sociedade, mas a sociedade também tem que dar amparo para essa pessoa. Isso é um dever de todos nós. Não adianta colocar barreiras de acessos, banheiros adaptados, portas largas, piso táteis e as pessoas não facilitarem esse processo de inclusão. Acredito que os maiores facilitadores ainda são as pessoas. Todo mundo precisa estar mobilizado para receber todos os tipos de pessoas. Enquanto isso não acontecer, não tem como a inclusão ser eficiente”, destaca a terapeuta.

Cadastramento de vagas para PCD no SINE

O processo de cadastramento de vagas é bem simples. A empresa interessada precisa entrar em contato por e-mail ou pessoalmente para receber uma ficha que deverá ser preenchida como os dados básicos da empresa e da vaga que deseja divulgar. O serviço é gratuito. O e-mail para solicitar a ficha é [email protected] e o telefone de contato é (54) 9 8432-6547.