Em viagem pela cidade, o guasca se encontrou com o amigo de infância saído lá dos confins de Judas, ainda adolescente.
-E aí, mano? Tudo em cima? – vibrou o conterrâneo, abraçando-o.
O visitante fez um sinal de desagrado. Que jeito esquisito de falar tinha o… nem mais se lembrava do nome. Intimidade besta. Afinal não eram manos, nem tão amigos, pra dizer a verdade. Só haviam jogado muitas peladas juntos e chutado muita bosta de vaca nos campinhos da infância. Mas assim que surgiram as primeiras espinhas, os dois seguiram rumos diferentes. Por isso ficou encasquetado com o “tudo em cima”… O que ele estaria insinuando?
-E então, tomando banho de civilização?
-Tenho uns negócios pra resolver…
-É mesmo? De que se trata?
-Uma questão de informática…
-Opa! Navegando?!
-Navegando, não, camarada! Viajando.
O outro fez que nem ouviu. Para impressionar o patrício que, pelo jeito estava mais por fora do que cotovelo de caminhoneiro, já foi despejando as novidades do mundo globalizado e informatizado.
-Tu tens que acessar o You Tube, velho! Nem imagina o que dá pra ver…
O da campanha franziu as sobrancelhas. Por que o purgante não ia encher os tubos da mãe dele? Mas, para não parecer rude, acabou concordando.
-Só que você tu tem que tomar cuidado com certos programas que escondem vírus, tipo o cavalo de Troia…
-Não te preocupa! Já tenho meu petiço – falou em tom sinistro.
-Ao menos no meu Orkut tu precisa entrar!
Aquilo já passava do ponto. Se o “amigo” tinha virado a casaca, que não se engraçasse pro seu lado, ou levaria porrada.
-No home-page…
-P… que o p….! Lá na nossa terra, eu não xingo ninguém por mais que… “peidi”. Será que aqui não tem espaço pra um silencioso? E me dá licença que tenho mais o que fazer.
Entre divertido e curioso, o cara insistiu:
-E então, qual é a questão de informática que te traz aqui?
-Não é da tua conta, mas vou te explicar, em consideração a nossa velha amizade… já bichada. Vim informar ao meu contador uns negócios que eu fiz… e que tinha esquecido de declarar.
-O leão te pegou, hein, malandro?
Segurando-se para não dar um cascudo no meio das fuças do babaca, o guasca afastou-se, tendo o cuidado de não lhe virar as costas. Olha se ele era do tipo de se deixar “pegar” por quem quer que fosse. Muito menos por um leão.
Já na outra esquina, ainda pôde ouvir o “ex-amigo” gritando em “chat”…
“Bocó! Toda a vida que não vou pra zona… Como é que poderia ter chatos?”, falou para si mesmo.