Cheguei de viagem procedente de Montevidéu, feliz pelos trabalhos realizados, e as mensagens no telefone celular já destruíram minha felicidade.
– “Teu amigo Fritoli está sendo velado”.

Faleceu com 102 anos de idade e doeu em mim pois pensei que ele teria mais uns dez anos conosco. Um exemplo de longevidade que consola a nós, septuagenários. Só o acompanhei até o cemitério.

Em seguida veio a notícia de que o Joaquin Alves dos Santos Filho, especial amigo desde os tempos do Colégio Aparecida, onde iniciei meus estudos no curso primário com o Irmão Teófilo e ele já cursava no Escritório Modelo. Diretor da Isabela, produtor de queijo e nos últimos cinco anos residente no Hospital Tacchini. Foram 85 anos de vida sempre rodeado de amigos e realizações. Fui acompanha-lo no velório e, ao sair, encontro o Chico Rampazzo.

Como o Chico entrou noutra sala das capelas mortuárias fui ver o que estava acontecendo. Uma irmã do Chico, de minha idade, estava lá sendo velada. Com apenas 70 anos ela se foi. Uma pena.

Mal chego em casa e vem outra mensagem no telefone celular:
– Nosso ex-vizinho de casa, o Bem, está sendo velado”.

Quase joguei o telefone fora pois já me preocupavam tantos óbitos. Parecia até que o telefone era o culpado.

No caso do vizinho, o Bem, era um rapaz de apenas 54 anos, me parece, e se foi muito cedo.

Quatro velórios num mesmo dia me fizeram refletir sobre a vida e a cidade de Bento Gonçalves.

Quanto a vida, decidi tomar todas as garrafas de vinho de minha adega começando pelos melhores. Se não o fizer posso até a nunca toma-las. Quanto a Bento Gonçalves, lembrei-me que nos quatro meses do ano que não tem a letra “r”: maio, junho, julho e agosto é o período de frio mais intenso.

O clima de nossa cidade é complicado: muda a temperatura muito rápido e com variações tão grandes que até concreto racha. A umidade vai até os ossos e mofam as gavetas dos armários. Faz frio de cortar a pele. Tudo isto além de os dias serem muito curtos, quase deprimentes.

É neste período que ocorrem mais óbitos na cidade. Uma droga!

Gosto de morar aqui e elegi Bento Gonçalves para criar filhos e netos mas há vezes que o nordeste brasileiro chega a ser uma tentação.

Fato é que aqui é meu lugar e preciso adaptar-me, mais uma vez, ao clima de inverno. Camiseta para agasalhar o peito, casaco de lã e mais coberta na cama.

Já fiz a vacina contra a gripe e recomendo. Toda prevenção é boa.

O que não quero é ver meus amigos se indo para o outro lado. É muito melhor encontrar os que me restam num supermercado, num restaurante, na igreja do que encontra-los no hospital, na farmácia ou num velório.

Ainda bem que ainda estamos aproveitando o presente da vida e não temos nenhuma pressa de irmos bater na porta do São Pedro.

Temos ainda muito vinho para tomar e, saudosos, brindar aos que nos deixaram. Que tenham excelentes vinhos lá no Céu!