Recebi a visita da Genny, minha irmã, e convivemos três dias de muito papo e recordações da família, de Bento e da vida.

– “Sabe Paulinho (ainda sou o irmão mais novo), acho que estou começando a ficar velha! Na semana passada eu estava na sala e fiz diversas tentativas para ligar para ti e já nervosa com todos aqueles números pequenos quando, assim de repente, meu telefone tocou noutra mesa. Fiquei espantada mas tive que rir pois eu estava tentando te ligar era com o controle da TV”.

Ela reclamou, e com razão, que é difícil ter controle para TV, outro para o aparelho de ar condicionado, outro para o alarme da casa e o telefone. É muito controle na nossa vida!

Ela tem seus 87 anos, bem vividos, e não reclama da vida.

Cada vez que vem a Bento Gonçalves quer visitar antigas amigas com as quais conviveu na sua época de Colégio Medianeira. Todas na mesma faixa etária e quando se encontram parecem aquelas mesmas meninas das saias pregadas, na cor azul marinho, como era o uniforme das freiras, ou melhor, das alunas do Medianeira.

No Aparecida o uniforme era calça caqui (era um brim resistente, barato e calorento), com uma camisa verde e um baita distintivo no peito. A cinta das calças tinha um fivelão e doía na bunda quando o seu Pedro resolvia dar uma lição para combater meus desaforos.

Já não lembro do uniforme do Colégio Estadual e do Sagrado.

Voltemos para a Genny: apreciadora de vinho tinto e de cerveja, que nunca dispensa nas refeições, fez uma pergunta que nos deixou perplexos. Nelson, nosso irmão padre, esbugalhou os olhos.

– “Tenho uma consulta para fazer aos meus irmãos: um rapaz de 85 anos, mais novo que eu, pediu para viajarmos juntos, quem sabe frequentar restaurantes e até estudar repartir uma residência. Será que pode dar certo? Sei que não vai rolar sexo mas, quem sabe?”

Mas é claro que pode! Isto é vida. Nelson já deu sua benção.

A Genny é viúva há três décadas e tem muita energia. Bota energia!

Estou feliz pois são 28 anos de diferença que separam nossas idades e me sinto um guri, o Paulinho, quando vejo tanta VIDA.