Como não amar as crianças? Ao menos a maioria delas, que são inteligentes, espertas e ativas. Ou dependentes, doentes e sofridas. Sossegadas ou desassossegadas, tímidas ou ousadas, sorridentes ou sérias. Que até contam alguma mentirinha, mas que não são mentirosas compulsivas. Que até praticam alguma maldadezinha, mas que não são maquiavélicas. Crianças cuja pureza ainda não foi contaminada pelos adultos. Ou crianças bem educadas pelos adultos. Estas são a esperança do mundo…

Complicado é amar crianças egoístas, desrespeitosas, tiranas, briguentas, agressivas, valentonas…, embora elas nem culpa tenham, pois são vítimas de uma educação ausente ou muito condescendente e acabam reproduzindo o comportamento familiar.

Mas o desafio mesmo é aceitar crianças que, apesar da pouca idade, já demonstram não ter nenhuma empatia com os outros, crianças perversas que praticam atos cruéis, que ferem, mentem, manipulam e, se pudessem, até matariam. São crianças que nasceram com um cérebro que não processa emoções, cuja deformidade é chamada eufemisticamente de transtorno de conduta.

Acredito que a balança pese mais para o lado das crianças que amamos de coração. A elas desejamos que a infância se estenda realmente aos limites da adolescência, sem pular etapas. Que resistam aos apelos da mídia pela excessiva valorização do corpo e prematura erotização. Que não se prendam o tempo inteiro em coisas virtuais, quando lá fora há um mundo real cheio de opções. E principalmente que não sejam tolhidas do direito de viverem sua infância.

Com as que se contrapõem na gangorra, é preciso muita paciência e firmeza, diálogo e exemplo, amor e disciplina, para que sejam resgatadas de seus egos, tornando-se mais solidárias e elas próprias mais felizes. Que não se desista delas hoje, para não haver arrependimento amanhã.

Já a pequena porcentagem que nos assusta (2 a 3% da humanidade, segundo as estatísticas), não há milagre que resolva. Mas as consequências poderão ser minimizadas se estas crianças forem diagnosticadas precocemente, para que possam ser vigiadas, controladas e tratadas, pelos pais, escola e terapeuta em ação conjunta. “Anjos malvados” não existem só em filmes…